André Singer, que foi porta-voz do
governo Lula e secretário de Redação do jornal Folha de S.Paulo, diz que a
vitória de Fernando Haddad (PT) em São Paulo reafirma sua tese.
André Singer escreveu um livro sobre
Lula capaz de fazer um petista sorrir e um tucano estudá-lo como um guia
eleitoral. Paradoxal? Não para quem percorre as 280 páginas de Os Sentidos do
Lulismo.
Acompanhando os passos do PT desde
1989, o cientista político e professor da USP sustenta que o governo Lula, pela
primeira vez na história, promoveu o casamento da esquerda com as classes
pobres, algo com que o partido sonhou por anos, mas nunca conseguiu.
O segredo de Lula foi adotar uma
política econômica conservadora e, ao mesmo tempo, combater a pobreza com
programas de distribuição de renda. A fórmula cativou as classes emergentes,
que, no Brasil, têm tamanho para definir uma eleição. Em pesquisas, Singer
descobriu que o eleitor pobre quer mudanças, mas dentro da ordem. Ou seja, um
tipo de conservadorismo do qual se alimentou a direita brasileira por décadas.
Lula venceu a parada até agora porque foi mais eficiente nas políticas sociais,
fez o Estado chegar aonde nunca havia chegado.
Por outro lado, a classe média se
afastou do PT após o mensalão. Singer afirma que esse realinhamento eleitoral
tem consequências profundas e duradouras, como uma inversão da polarização
política nacional. Sob o lulismo, a disputa não se dá entre esquerda e direita,
mas entre ricos e pobres — com vantagem para quem souber conversar com esses
últimos.
Nesta entrevista, Singer, que foi
porta-voz do governo Lula e secretário de Redação do jornal Folha de S.Paulo,
comenta o livro e diz que a vitória de Fernando Haddad (PT) em São Paulo
reafirma sua tese.
Zero
Hora — Como o lulismo influenciou na vitória de Fernando Haddad?
André
Singer — Em São Paulo, o realinhamento eleitoral que aconteceu a partir de 2006
colocou a periferia mais extrema alinhada ao PT. No primeiro turno, por razões
que ainda não estão muito claras, o voto da periferia se dividiu e foi, em
parte, para Celso Russomanno. No segundo turno, imediatamente esse eleitor foi
para Haddad. É reflexo do realinhamento provocado pelo lulismo.
ZH
— O que desejam esses eleitores das classes de baixa renda e emergentes?
Singer
— Eles querem que as mudanças ocorram dentro da ordem. Eles não apoiam e até
têm uma certa hostilidade em relação a movimentos que buscam mudar a situação
por meio de uma ameaça à ordem, o que era tipicamente a proposta petista. O PT
foi um partido que, por muito tempo, tinha como fundamento a organização da
classe trabalhadora, de baixo para cima, para lutar contra o capital. Era uma
posição de ruptura. Com a mudança do PT, hoje o partido tem apoio desse
eleitorado conservador, mas o conservadorismo popular não pode ser confundido
com o de classe média. São dois tipos diferentes.
Fonte:
site Jornal A Notícia 09/11/2012
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