Argentino foi escolhido pelos cardeais
em conclave na quarta-feira (13). Especialistas apontam desafios que ele encontrará no comando da Igreja.
Aos 76 anos, o argentino Jorge Mario
Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, foi eleito pelos cardeais na quarta-feira
(13) para suceder o Papa Emérito Bento XVI no comando da Santa Sé.
Ao aceitar a incumbência, ele escolheu
ser chamado de Francisco. A tarefa de gerir a Igreja no século XXI exigirá
muito do pontífice, afirmam os especialistas entrevistados pelo G1.
De acordo com os estudiosos, o
sucessor herda uma série de desafios relacionados à sociedade moderna e à
administração da Santa Sé, tais como a reforma da Cúria Romana, o fim da
perseguição aos católicos na África e Ásia, a ampliação do diálogo ecumênico,
além da discussão de temas como divórcio, celibato e ordenação de mulheres.
Foram ouvidos o professor Francisco
Borba, coordenador do núcleo de fé e cultura da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) de São Paulo; o teólogo Fernando Altemeyer Júnior, professor da
PUC-SP; o Padre Luiz Corrêa Lima, da PUC-Rio; e o Padre Agenor Brighenti, da
PUC-PR.
Veja dez desafios do novo pontífice:
1ª Reforma da Cúria
Romana e do banco do Vaticano:
Sob acusações de intrigas, tráfico de
influência e abusos de poder, a Cúria Romana (governo central da Santa Sé)
precisará ser reformada pelo sucessor de Bento XVI, afirmam os especialistas.
“O novo Papa terá como desafio implantar uma gestão mais transparente na Cúria
e no Banco Vaticano”, acredita o professor Francisco Borba.
O
mesmo deve ocorrer com o Instituto para as Obras de Religião (IOR), banco
oficial do Vaticano, que dispõe de 5 bilhões de euros e foi palco de escândalos
financeiros, durante o pontificado de João Paulo II e Bento XVI. Em 2010, as
autoridades italianas abriram investigação contra os dirigentes da instituição
por violação das leis de lavagem de dinheiro e, nos últimos meses, o banco
também esteve no centro do episódio conhecido como “Vatileaks” (veja segundo
item).
A diminuição da burocracia e a
descentralização da Cúria também são apontadas como problemas a serem
enfrentados pelo novo pontífice. “Ele precisa internacionalizar a Cúria, dar
mais mobilidade à Igreja. São necessários mais cardeais do terceiro mundo,
porque hoje o peso europeu ainda é muito maior”, acredita Borba.
2ª Investigação do caso
"Vatileaks
A primeira tarefa do novo pontífice no
comando da igreja talvez seja analisar o relatório secreto elaborado por três
cardeais sobre o “Vatileaks” -- vazamento de documentos confidenciais
do aposento papal. O documento foi redigido a pedido do agora Papa Emérito
Bento XVI, depois que cartas confidenciais dirigidas a ele foram parar nas mãos
de jornalistas.
Em um dos seus últimos atos no comando
da Santa Sé, em fevereiro, Bento XVI decidiu entregar “exclusivamente” ao seu
sucessor a conclusão da investigação. “O novo Papa certamente terá que
enfrentar o que estiver escrito ali”, afirma o teólogo Fernando Altemeyer
Júnior.
3ª Moral sexual e
família
Existe hoje uma pressão da sociedade
moderna para que a Igreja reveja seus conceitos sobre o divórcio, uso de
preservativos, homossexualidade, aborto e pesquisas com células tronco, temas
sobre os quais o novo pontífice terá de se posicionar.
O novo Papa não fará grandes mudanças
com relação à maioria dessas questões, enquanto outras têm mais chances de
serem discutidas, acredita Altemeyer. “Os assuntos relacionados à família não
vão mudar, porque são dogmas da Igreja. Temas como o aborto e a sexualidade são
patrimônio moral. Por outro lado, pode-se discutir eventualmente a fertilização
in vitro ou questões relacionadas às células tronco não-embrionárias”, afirma
Ainda que não faça mudanças, o novo
Papa terá como desafio responder a essas demandas, fundamentando a postura da
Igreja Católica. “Se a igreja pelo menos se comunicar com mais facilidade com a
sociedade, o diálogo com essas demandas irá melhorar bastante”, assegura
Francisco Borba.
4ª Secularização e
secularismo
A Igreja, que por muitos anos esteve
presente em todas as esferas da sociedade, hoje convive com uma crescente
autonomia das instituições em relação à religião - secularização; e com a
hostilidade à fé, chamada de secularismo.
“O remédio para isso [secularismo]
também é o diálogo, mostrando que a igreja não ameaça a liberdade, as ciências
e as instituições. Na medida em que a Igreja convive bem com a sociedade
pluralista, esse fenômeno tende a diminuir”, afirma o Padre Luiz Corrêa Lima.
5ª Perseguição aos
cristãos na África e Ásia
O continente em que o catolicismo mais
cresce é o africano que, junto com o Oriente Médio e com a Ásia, concentra um
grande número de perseguições e mortes de fiéis, afirmam os
especialistas. “Nesses locais, existem muitos casos de massacres de
cristãos, atendamos a igrejas e assassinatos por causa da intolerância
religiosa. Esse é um desafio difícil e doloroso, mas precisa ser enfrentado”,
diz Francisco Borba.
6ª Pedofilia
Os casos de pedofilia, abusos sexuais
por parte de padres e o acobertamento dos autores desses crimes são “uma
terrível ferida no corpo da Igreja”, afirmou o cardeal americano Francis
George em entrevista coletiva no dia 4 de março.
Durante seu papado, o Bento XVI
empenhou esforços para combater os escândalos sexuais, que culminaram
principalmente na exigência de que os culpados fossem denunciados à justiça e
respondessem na esfera criminal. Ele ainda se encontrou com as vítimas de abuso
e pediu desculpas a elas. Agora, cabe ao novo chefe da Igreja Católica
manter uma postura firme com relação aos casos de pedofilia.
“Tudo o que João Paulo II deixou de
fazer para combater o problema, Bento XVI fez. Antes havia uma cultura
eclesiástica de que isso deveria ser resolvido internamente, mas Bento XVI fez
questão de comunicar os casos ao poder civil. Espera-se do próximo pontífice
que ele continue nesse caminho e não cometa nenhum retrocesso”, declarou o
Padre Corrêa Lima.
7ª Celibato
As discussões sobre a flexibilização
do celibato têm cada vez mais adeptos entre as dioceses, padres e bispos. “Essa
é tradição do celibato é algo próprio da Igreja Católica do Ocidente. No
Oriente existem os dois modelos: casados e celibatários”, explica o Padre Luiz
Corrêa. De acordo com ele, não se trata de um dogma, mas da disciplina
eclesiástica, que pode ser discutida e mudada a qualquer momento,
possibilitando também que um maior número de pessoas exerçam o sacerdócio.
8ª Crise das vocações
A Europa vive uma crise das vocações
sem precedentes. Antigamente, era comum encontrar pais que desejavam ver
os filhos seguindo a vida religiosa. Nos dias de hoje, essa postura é rara e há
cada vez menos jovens aderindo ao sacerdócio. A falta de párocos é tão grande
que países da América Latina e África têm “exportado” padres e
missionários para o continente europeu.
No Brasil, após anos de queda, foi
registrado um crescimento no número de rapazes que querem ser padres, mas a
quantidade ainda é pequena perto da população brasileira e do número de
paróquias e dioceses. “No nosso país, houve uma crise nos anos 70 e agora há um
boom. O problema principal é a Europa”, afirma o professor Fernando Altemeyer.
Cabe ao novo Papa encontrar uma de atrair novamente os jovens para o
sacerdócio.
9ª Ordenação de mulheres
A ordenação de mulheres ganhou muitos
defensores nos últimos anos, mas ainda está longe de virar uma realidade. “Há
muita resistência dentro da Igreja Católica. Existem muitos teólogos e bispos
que já se manifestaram a favor, mas é muito improvável que essa questão mude no
próximo pontificado”, afirma Padre Luiz Corrêa Lima.
De acordo com ele, nos séculos
passados, existia o posto de diaconisa – o equivalente feminino ao diácono. “Se
já existiu, pode voltar a existir, mas ainda não há um consenso sobre essa
questão”.
10ª Diálogo ecumênico e
inter-religioso
Uma tarefa importante do Papa
Francisco é dar um novo impulso ao diálogo ecumênico e inter-religioso,
afirma o Padre Agenor Brighenti. “No passado, as religiões motivaram muitas
guerras. Agora, ao trocar experiência entre si, elas assumem um papel
importante para fomentar a paz no mundo, a consciência ecológica e o combate à
fome”, concorda o Padre Luiz Correa.
Fonte: Site Globo.com 14/03/2013
Nenhum comentário :
Postar um comentário