Ex-diretor da Siemens apontou ao Cade
pagamento de propina a políticos em esquema de cartel.
Pela primeira vez desde o início do
escândalo no sistema de trens e metrô de São Paulo, em julho, veio à tona
um documento oficial que trata de supostas propinas pagas a políticos ligados a
governos do PSDB. A documentação gerou reação do governador Geraldo
Alckmin (PSDB), uma vez que quatro secretários estaduais são envolvidos em
suspeitas de corrupção.
A fonte da denúncia é um relatório
entregue por um ex-diretor da multinacional Siemens ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade) no dia 17 de abril. O Cade investiga a existência de
cartel nas licitações de trens e metrô em São Paulo, e a Siemens colabora com a
apuração.
No documento, Everton Rheinheimer
assegura ter “documentos que provam a existência de um forte esquema de
corrupção durante os governos Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, e que
tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM”.
O ex-diretor afirma que o atual chefe
da Casa Civil no governo Alckmin, deputado licenciado Edson Aparecido (PSDB),
foi apontado por um lobista como um dos recebedores de propina das
multinacionais suspeitas de participar do esquema.
Rheinheimer
também cita outros políticos como “envolvidos com a Procint”. Segundo as
investigações, a Procint Projetos e Consultoria, de Arthur Teixeira, é suspeita
de intermediar propina a agentes públicos.
Ele menciona o senador Aloysio Nunes
Ferreira (PSDB-SP), o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) e os secretários
estaduais José Aníbal (Energia), Jurandir Fernandes (Transportes
Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico). Garcia é do DEM.
Os demais, do PSDB. Até agora, o Ministério Público e a Polícia Federal
apontavam suspeitas de corrupção que envolviam só ex-diretores de estatais.
Diretor da divisão de Transportes da
Siemens, onde trabalhou por 22 anos, até março de 2007, Rheinheimer prestou
depoimento à PF em regime de colaboração premiada. Em troca de eventual redução
de pena ou até mesmo perdão judicial, decidiu contar o que sabe do cartel.
“Trata-se de um esquema de corrupção
de grandes proporções, porque envolve as maiores empresas multinacionais do
ramo ferroviário como Alstom, Bombardier, Siemens e Caterpillar e os governos
do Estado de São Paulo e do Distrito Federal”, escreveu ele, no relatório.
Segundo o documento, a fraude ocorreu de 1998 a 2012.
No relatório, Rheinheimer disse ter
tido ajuda de um deputado do PT para se encontrar com a cúpula do Cade e fazer
a denúncia. Ele se diz disposto a contar o que sabe, mas sugere receber em
contrapartida a nomeação para um alto cargo na mineradora Vale.
Suspeitos rebatem as acusações de
ex-diretor:
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP)
disse ontem que solicitou ao Cade toda a documentação referente à nova denúncia
de corrupção. Segundo ele, o objetivo é “apurar rigorosamente tudo”.
Todos os políticos citados no
relatório negaram as suspeitas. O secretário de Energia, José Aníbal (PSDB),
afirmou que vai processar o ex-diretor da Siemens por calúnia, difamação e
danos morais. Aníbal ressaltou que Everton Rheinheimer “barganhou suas
acusações em troca de proteção e de emprego junto ao PT”. Chefe da Casa Civil,
Edson Aparecido desafiou o executivo a apresentar provas contra ele.
Já o senador Aloysio Nunes Ferreira
(PSDB) negou ligação com empresa suspeita de pagar propina. O secretário de
Transportes, Jurandir Fernandes, afirmou conhecer o lobista citado por
Rheinheimer, mas afirmou tratar-se de uma relação “totalmente profissional”.
Fora dos trilhos:
— A Siemens fez um acordo com o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão de combate a práticas
prejudiciais à livre concorrência, informando que participou, com outras
empresas, de cartéis para fraudar licitações do governo de São Paulo entre 1998
e 2008.
— As fraudes teriam acontecido em
licitações para venda e manutenção de metrôs e trens nos governos Mario Covas,
José Serra e Geraldo Alckmin. Multinacionais combinavam entre si quem ganharia
e quem perderia as concorrências, para conseguir forçar os preços a serem
superfaturados.
— Segundo as apurações, a Siemens
subcontrataria empresas para pagar propinas a políticos e diretores de
estatais. Outra vertente do esquema usava contas no Exterior, em paraísos
fiscais. Agora, veio à tona um relatório de um ex-diretor da Siemens citando
nomes de políticos ligados ao PSDB.
— O esquema de cartel teria causado
prejuízo de R$ 577 milhões. No início do mês, a Justiça determinou o bloqueio
de R$ 60 milhões em bens de ex-diretores da estatal de trens CPTM e de empresas
investigadas. A decisão da Justiça visa a ressarcir eventuais prejuízos aos
cofres públicos.
Fonte: Site A Notícia 22/11/2013
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