Focco Tecnologia está com as contas
bloqueadas pela Justiça por suspeitas de envolvimento de João Roberto Zaniboni
com esquema.
Condenado na Suíça por
lavagem de dinheiro e indiciado no Brasil sob suspeita de corrupção, formação
de cartel, crime financeiro e também lavagem de dinheiro, o ex-diretor da
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos ( CPTM ) João Roberto
Zaniboni prestou serviços de consultoria por meia década ao governo
do PSDB em São Paulo, o mesmo que é suspeito de lesar quando era seu
funcionário. Nos últimos quatro anos, Zaniboni, um dos principais personagens
do caso do cartel, recebeu R$ 32,9 milhões, junto com seus sócios, dos
cofres paulistas, informa o jornal O Estado de S. Paulo em sua edição desta
sexta-feira.
A Focco Tecnologia, pela qual o
ex-diretor da CPTM prestou os serviços de consultoria, está com as contas
bloqueadas pela Justiça justamente por causa das suspeitas de envolvimento de
Zaniboni com o cartel, que passou a ser investigado no Brasil em 2008. Zaniboni
foi diretor de Operações da estatal de trens paulista entre 1999 e 2003,
durante dos governos dos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin.
Zaniboni virou sócio da Focco em julho
de 2008 e já fechou seus primeiros contratos com o governo estadual em 2009.
Hoje, a empresa tem contratos com CPTM, Metrô, Secretaria de Transportes
Metropolitanos, Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e Agência
Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo
(Artesp). Zaniboni deixou formalmente a sociedade em agosto deste ano, após ver
seu nome envolvido no escândalo do cartel de trens.
São ao menos oito acordos da Focco com
o governo paulista. Em alguns deles, ela participa de consórcios. Os serviços
são de apoio à supervisão de obras. Ela atua, por exemplo, em reformas e
modernização de linhas da CPTM e na construção do monotrilho que liga o Morumbi
ao Jabaquara, passando pelo aeroporto de Congonhas, na zona sul.
Os
valores pagos pelos cofres estaduais à empresa foram retirados do site da
Secretaria da Fazenda de São Paulo. No portal não constam dados de 2009.
Sediada na Rua Estados Unidos, nos
Jardins, região central de São Paulo, a Focco tem 120 funcionários, a maior parte
de engenheiros, segundo Luiz Fernando Pacheco, advogado de Zaniboni. Pacheco
sustenta que todos os serviços ao governo do Estado foram prestados.
A gestão Alckmin também diz que o
contratos respeitam a lei. O governo informou ainda que a Corregedoria-Geral de
Administração vai checar, "por amostragem, a efetiva execução dos serviços
contratados".
Contratos
com o governo federal
A Focco também mantém contratos com o
governo federal. A empresa de Zaniboni recebeu, entre 2011 e 2013, R$ 168,2 mil
dos cofres de estatais do governo Dilma Rousseff, sendo R$ 36,5 mil da
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e o restante da Valec, responsável
pelas ferrovias brasileiras. Antes, não havia contratos da Focco no governo
federal.
Na CBTU, a empresa de Zaniboni fechou,
em dezembro de 2012, um acordo para consultoria nos contratos de fornecimento
de material rodante metroferroviário constantes do Plano de Aceleração do
Crescimento (PAC). Ela participa de um consórcio com a Pólux. Na Valec, a Focco
assinou, em 2010 - passando a receber no ano seguinte -, contrato para
supervisão de um dos lotes da Ferrovia Leste-Oeste no trecho entre Ilhéus e
Barreiras, na Bahia. No caso, ela participa de um consórcio com outras duas
empresas, a Vetec e a Diefra.As estatais federais dizem que não houve
irregularidade nas licitações e que os serviços estão sendo prestados
adequadamente.
Até o momento, as investigações que
envolvem Zaniboni e sua ex-empresa identificaram indícios de crimes que teriam
ocorrido quando ele era diretor da CPTM. Os investigadores, no Brasil e na
Suíça, buscam saber se o esquema permaneceu para além do período de suspeita de
ação do cartel, entre 1998 e 2008.
As
frentes
Para condená-lo, semanas atrás, o
Ministério Público da Suíça identificou depósitos de US$ 836 mil, entre 1999 e
2002, em uma conta sua no banco Credit Suisse em Zurique. Segundo os
investigadores do país europeu, uma parte desse dinheiro foi paga por lobistas
do esquema, suspeitos de serem os pagadores de propina do cartel, entre eles o consultor
Arthur Teixeira.
O sócio de Zaniboni na Focco, Ademir
Venâncio de Araújo, foi ex-diretor de obras da CPTM. Ele também foi indiciado
pela Polícia Federal pelos mesmos crimes. Eles são suspeitos de atuarem junto
com Oliver Hossepian, ex-presidente da estatal de trens, como
"intermediários" da propina, utilizando as contas da Focco.
Na decisão da Justiça brasileira de
novembro, em que determinou o bloqueio das contas do ex-diretor da CPTM, o juiz
federal Marcelo Cavali anotou, citando o pedido feito pela Polícia Federal:
"Hoje, ademais, Ademir Venâncio de Araújo, João Roberto Zaniboni e Oliver
Hossepian Salles de Lima seriam os intermediários no pagamento de propinas,
conforme demonstraria a suspeita movimentação da empresa Focco Tecnologia e Engenharia".
Fonte: Site A Notícia 29/11/2013
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