O PT nacional publicou nesta
terça-feira (7) em sua página oficial no Facebook um texto com críticas ao
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), provável adversário da
presidente Dilma Rousseff nas eleições presidenciais deste ano.
Intitulado "A balada de Eduardo
Campos", o artigo afirma que o governador é um "tolo" e que
"vendeu a alma à oposição" ao descartar a aliança com o PT e decidir
se lançar ao Palácio do Planalto.
"Ao descartar a aliança com o PT
e vender a alma à oposição em troca de uma probabilidade distante –a de ser
presidente da República–, Campos rifou não apenas sua credibilidade política,
mas se mostrou, antes de tudo, um tolo", diz o artigo.
Ainda
de acordo com o texto, o governador de Pernambuco é um "beneficiário singular
da boa vontade dos governos do PT" e transformou sua perspectiva de poder
em "desespero eleitoral.
"Estimulado pelos cães de guarda
da mídia, decidiu que era hora de se apresentar como candidato a presidente da
República –sem projeto, sem conteúdo e, agora se sabe, sem compostura
política".
Algumas críticas também são
direcionadas à ex-senadora Marina Silva (PSB), neoaliada de Campos. Segundo o
artigo, Marina virou uma "pedra no sapato", em referência à polêmica
que se criou em torno da antecipação do anúncio de seu nome como vice na chapa
do pernambucano e também das divergências entre os dois frente à política de alianças
adotada pelo partido.
Horas após a publicação do texto, o
líder do PSB na Câmara dos Deputados e um dos principais aliados de Campos,
Beto Albuquerque, rebateu em seu Twitter o artigo com a hashtag
"confessaramomedo".
"Patética, desrespeitosa e desqualificada
a nota do PT com ataques pessoais a @eduardocampos40. Este nível de debate não
encontrará eco no PSB", escreveu o deputado. "PSB não vai morder a
isca da baixaria e dos ataques pessoais do PT. Vamos debater saúde, educação,
segurança e mobilidade", completou.
Apesar de estar na página oficial do
PT no Facebook, o texto não tem assinatura. Procurada pela Folha, a
assessoria do partido disse que não é de autoria do presidente nacional, Rui
Falcão, mas não soube informar quem é o autor.
A reportagem também entrou em contato
com a assessoria de Eduardo Campos e Marina Silva, que disseram não ter
conhecimento do texto e, caso seja necessário, responderão oficialmente ao que
for considerado ofensa.
*
CONFIRA A ÍNTEGRA DO TEXTO:
A
BALADA DE EDUARDO CAMPOS
Por um momento, desses que enchem os
incautos de certezas, o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, achou que
era, enfim, o escolhido.
Beneficiário singular da boa vontade
dos governos do PT, de quem se colocou, desde o governo Lula, como aliado preferencial,
Campos transformou sua perspectiva de poder em desespero eleitoral, no fim do
ano passado.
Estimulado pelos cães de guarda da
mídia, decidiu que era hora de se apresentar como candidato a presidente da
República –sem projeto, sem conteúdo e, agora se sabe, sem compostura política.
O velho Miguel Arraes, avô de Eduardo
Campos, faz bem em já não estar entre nós, porque, ainda estivesse, morreria de
desgosto.
E não se trata sequer da questão
ideológica, já que a travessia da esquerda para a direita é uma espécie de
doença infantil entre certa categoria de políticos brasileiros, um sarampo do
oportunismo nacional. Não é isso.
Ao descartar a aliança com o PT e
vender a alma à oposição em troca de uma probabilidade distante –a de ser
presidente da República–, Campos rifou não apenas sua credibilidade política,
mas se mostrou, antes de tudo, um tolo.
Acreditou na mesma mídia que, até
então, o tratava como um playboy mimado pelo "lulo-petismo", essa
expressão também infantilóide criada sob encomenda nas redações da imprensa
brasileira.
Em meio ao entusiasmo, Campos foi
levado a colocar dentro de seu ninho pernambucano o ovo da serpente chamado
Marina Silva, este fenômeno da política nacional que, curiosamente, despreza a
política fazendo o que de pior se faz em política: praticando o adesismo puro e
simples.
Vaidosa e certa, como Campos, de que é
a escolhida, Marina virou uma pedra no sapato do governador de Pernambuco, do
PSB e da triste mídia reacionária que em torno da dupla pensou em montar uma
cidadela.
Como até os tubarões de Boa Viagem
sabem que o objetivo de Marina é se viabilizar como cabeça da chapa
presidencial pretendia pelo PSB, é bem capaz que o governador esteja pensando
com frequência na enrascada em que se meteu.
Eduardo Campos é o resultado de uma
série de medidas que incluem a disposição de Lula em levar para Pernambuco a
Refinaria Abreu e Lima, em parceria com a Venezuela, depois de uma luta de mais
de 50 anos. Sem falar nas obras da transposição do Rio São Francisco e a
Transnordestina. Ou do Estaleiro Atlântico Sul, fonte de empregos e prestígio
que Campos usou tão bem em suas estratégias eleitorais.
Pernambuco recebeu 30 bilhões de reais
do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, do qual a presidenta Dilma
Rousseff foi a principal idealizadora e gestora.
O estado também ganhou sete escolas
técnicas federais, além de cinco campi da Universidade Federal Rural
construídos para melhorar a vida do estudante do interior.
Eduardo
Campos cresceu, politicamente, graças à expansão de programas como Projovem,
Samu, Bolsa Família, Luz para Todos, Enem, ProUni e Sisu. Sem falar no
Pronasci, que contribuiu para a diminuição da criminalidade no estado, por
muito tempo um dos mais violentos do País.
Campos poderia ser grato a tudo isso
e, mais à frente, com maturidade e honestidade política, tornar-se o sucessor
de um projeto político voltado para o coletivo, e não para o próprio umbigo.
Arrisca-se, agora, a ser lembrado por
ter mantido entre seus quadros um secretário de Segurança Pública, Wilson
Damázio, que defendeu estupradores com o argumento de que as meninas pobres do
Recife, obrigadas a fazer sexo oral com marginais da Polícia Militar, assim
agiam por não resistirem ao charme da farda.
"Quem conhece Damázio, sabe que
ele não tem esses valores", lamentou Eduardo Campos.
Quem achava que conhecia o governador
do PSB, ao que tudo indica, ainda vai ter muito o que lamentar.
Fonte: Site Folha SP 07/01/2014
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