Enquanto o senador defende manutenção
da aliança com o governador Raimundo Colombo, deputado defende candidatura
própria do partido.
Três de outubro de 2010. Mauro Mariani
(PMDB) e Luiz Henrique (PMDB) comemoram os resultados da eleição. Naquela
noite, ao chegar na casa do ex-governador, Mariani foi protagonista de um gesto
inusitado. Embalados pelo clima de festa, ao se encontrarem, Luiz Henrique
tirou a jaqueta que usou em muitas ocasiões durante a campanha e, em uma
transferência simbólica de poder, agasalhou o deputado, que acabara de receber
a maior votação da história para o cargo na Câmara Federal.
Quase quatro anos depois, o deputado
está sentado em seu escritório, no oitavo andar de um edifício empresarial
localizado no bairro Saguaçu, quando define o momento de sua relação com o
senador joinvilense.
— Você quer falar sobre o clima
belicoso, beligerante, em que estamos vivendo? — indaga o deputado.
A pré-convenção do PMDB de Santa
Catarina marcada para o próximo dia 26 colocou Luiz Henrique e Mariani em
trincheiras opostas – enquanto o primeiro defende a continuidade da aliança com
o governador Raimundo Colombo, o deputado federal se transformou em um dos
maiores defensores da necessidade de uma candidatura própria para a legenda. Em
30 anos de carreira, esta é a primeira vez que o senador se vê desafiado
internamente no partido – logo por quem ele considerava ser seu “herdeiro
político”.
Cada um lançou mão de diversas
estratégias para defender suas bandeiras: são inúmeras viagens pelo Estado,
reuniões com vereadores, plenárias regionais, encontros com lideranças, com
presidentes de diretórios municipais e até mesmo uma carta, assinada pelo
senador, listando “15 motivos para reeditar a atual aliança”.
Apoiado por nomes como o do
ex-prefeito de Florianópolis Dário Berger, o ex-governador Paulo Afonso Vieira
e o prefeito de Balneário Camboriú, Edson Piriquito, Mariani alega que o apoio
à reeleição de Colombo pode enfraquecer o PMDB nas bases, deixando o partido
sem musculatura no futuro.
– Eu sempre fui parceiro. Não preciso
provar lealdade a ninguém, muito pelo contrário. Eu sempre fui leal. Talvez
isto seja uma retribuição que eu estou recebendo – rebate o parlamentar.
Nos bastidores, aliados do senador
tentam amenizar a ruptura e adotam um discurso uníssono: argumentam que o
processo de discussão é natural dentro do PMDB e que qualquer que seja o
resultado da pré-convenção, ele será respeitado pelos dois lados. Acima de
tudo, dizem, não há nenhuma crise no relacionamento entre LHS e Mariani.
Procurado pela reportagem, o senador preferiu não falar, sobre o assunto, sob o
argumento de que qualquer afirmação poderia incendiar ainda mais o clima dentro
do partido.
Há sete anos, em entrevista ao jornal
“A Notícia”, Luiz Henrique tinha pensamento semelhante ao que Mariani defende
nos dias de hoje.
— O Mauro Mariani é um
extraordinário, um excelente candidato, mas quem vai decidir isso é a base em
Joinville, como sempre foi. Assim eu fui candidato, assim nós apoiamos o
Tebaldi (prefeito Marco Tebaldi). A decisão é de baixo para cima —
afirmou, sobre a possibilidade de o parlamentar ser candidato à Prefeitura em
2008.
Disputas internas: Apesar de hoje ser
enfático ao afirmar que não se considera apadrinhado pelo senador, a carreira
política de Mariani tem estreita ligação com a atuação de Luiz Henrique nos
últimos anos.
Em 2002, Mariani renunciou ao seu
segundo mandato na Prefeitura de Rio Negrinho para disputar uma vaga na
Assembleia Legislativa e se transformou em um fiel defensor da eleição de LHS
para o governo. Eleito, não chegou a esquentar a cadeira na casa: foi convidado
e tornou-se secretário de Infraestrutura do Estado.
O mesmo aconteceu em 2006, quando
fora eleito deputado federal pela primeira vez, com mais de 170 mil votos.
Apontado pelo próprio Luiz Henrique como seu sucessor, em 2007, transferiu seu
domicílio eleitoral para Joinville para ser candidato à Prefeitura no ano
seguinte. Recebeu 36.292 votos – 12,69% do total – e amargou um quarto lugar no
pleito que considera “podre, que todo mundo sabia que era a vez do Carlito”.
Ficou no cargo até 2010.
O distanciamento entre os dois remonta
a esta época, quando Mariani deixou a secretaria para trabalhar pela
candidatura de Dário Berger ao governo – que perdeu a convenção peemedebista
para o vice-governador Eduardo Pinho Moreia. No ano passado, a disputa pela
presidência estadual do partido os colocou novamente em lados opostos: Mariani
disputou o comando da sigla contra Pinho Moreira. Luiz Henrique preferiu
manter-se neutro para evitar desgastes.
O vice-governador venceu, mas o
resultado da votação – 318 a 231 – foi um alerta às lideranças de que as bases
não estavam completamente satisfeitas com os rumos que a legenda adotou.
Agora, o deputado afirma estar
confiante em uma vitória, mas não fala
em números de votos.
em números de votos.
— Esta coligação só existe na
cúpula. Na base, o PSD é nosso adversários. Não sou obrigado a concordar com
tudo o que ele (Luiz Henrique) acha, até porque ele está errado —
argumenta Mariani.
Fonte: Site A Notícia 12/04/2014
Nenhum comentário :
Postar um comentário