A organização da Copa do Mundo tem
mais peso nas eleições de outubro do que a derrota histórica da Seleção de Luiz
Felipe Scolari nas semifinais da competição.
A avaliação é do cientista político
Yan Carreirão, coordenador da Pós-Graduação em Sociologia Política da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Após os 7 a 1 aplicados pela
Alemanha na equipe brasileira, o professor conversou com o Diário Catarinense
para analisar os impactos possíveis desse verdadeira Mineiraço nas disputas
pela Presidência da República e pelo governo do Estado.
Diário Catarinense — Esse resultado da
Seleção, como aconteceu, pode ter reflexo nas eleições de outubro?
Yan Carreirão — Se tiver, é
pouco. Se o Brasil tivesse ganho, um clima de otimismo talvez tivesse impacto,
uma sensação de bem-estar que poderia ser bom para os governantes, no caso a
presidente Dilma Rousseff (PT). Mas com derrota não tem impacto muito grande.
Acredito que o eleitor brasileiro não relaciona tão diretamente os resultados
do futebol e da política. Isso pode ser potencializado por algum tipo de
insatisfação que já tenha. Pessoas que já estavam insatisfeitas por a Copa
estar sendo realizada no Brasil, gastos excessivos, suspeitas de corrupção, ou
por acreditar que restaria um legado que não ficou. Isso poderia influenciar um
pouco.
DC — O sucesso da Copa como
evento pode minimizar um efeito negativo causado pela Seleção?
Carreirão — Acredito que sim.
Existem algumas críticas na mídia internacional, mas no conjunto não foi o que
alguns imaginaram, de que haveria muita insatisfação, crítica, manifestações,
que as coisas iam dar muito errado. A Copa tem tido um relativo sucesso do
ponto de vista organizacional, os turistas estão gostando muito. Isso atenua um
pouco o resultado da Seleção em campo.
DC — Essa Copa do Mundo não
acabou sendo politizada demais, tanto pelo governo quanto pela oposição?
Carreirão — Claro, o fato de ser
disputada no Brasil permite isso muito mais do que as que foram disputadas
fora. Porque ela foi politizada não pelo aspecto da Seleção, mas da própria
Copa. A pertinência de trazer uma Copa para o Brasil, os gastos, o fato de
muito dinheiro público, o fato de não ficar um legado, especialmente em
mobilidade urbana, que se esperava. Por outro lado, também, deve ter
movimentado a economia e pode gerar uma imagem positiva sobre o país que
resulte na vinda de mais turistas. Não é um balanço fácil de fazer. Não é um
balanço totalmente positivo e nem totalmente negativo.
DC — A presidente Dilma voltou a
ser xingada no Mineirão. Isso tem algum impacto?
Carreirão — Divide o eleitorado.
As pessoas xingaram a presidente naquela primeira ocasião e depois as pesquisas
mostraram que o eleitorado não concorda com esse tipo de coisa. Claro que a
insatisfação dos que já estavam insatisfeitos acaba sendo potencializada. Não
vejo que possa haver mudança de voto de uma parcela significativa dos eleitores
porque o Brasil foi mal na Copa. Teria um efeito maior se organização tivesse
sido um fracasso, se a imagem do Brasil lá fora ficasse mal vista. Jogar mal ou
jogar bem, as outras Copas mostram que o resultado esportivo e o resultado
político não tem relação.
DC — E aqui na eleição catarinense,
algum possível reflexo?
Carreirão — Aí mesmo não tem
impacto nenhum. É muito difícil relacionar resultados da Seleção Brasileira com
política local, ainda mais que não teve nenhum evento aqui. Impacto zero.
Fonte: Site A Notícia 08/07/2014
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