Economista e professor, Afrânio
Boppré fala de forma detalhada, seja episódios de sua vida ou aquilo em
que acredita.
Candidato a governador pelo Partido Socialismo e Liberdade
(PSOL), aos 53 anos ele lembra que sua vida política começou na adolescência,
mas bem antes disso, influenciado pela família, costumava acompanhar os
acontecimentos do país, que na época vivia o período após o Golpe Militar de
1964.
A partir desta segunda (18), o G1
publica os perfis dos candidatos ao Governo de Santa Catarina. A ordem de
publicação foi definida por sorteio na RBS TV, com participação de
representantes dos partidos. Além disso, todos os candidatos responderam as
mesmas perguntas.
Filho de um advogado, ele conta que
dois acontecimentos foram decisivos para o início de sua vida política, aos 18
anos, ambos em 1979: a 'Novembrada' e a fundação do Diretório Acadêmico Livre
de Economia, do curso de economia da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).
A 'Novembrada' foi o nome dado a uma
manifestação popular contra o Regime Militar. O evento ocorreu em Florianópolis
em 30 de novembro de 1979 durante a visita do General João Figueiredo. Já na
UFSC, ainda era calouro quando se engajou na criação do Centro Acadêmico Livre,
que também questionava o governo e contrariava os ideais do Centro Acadêmico
que já havia no curso.
Na mesma época, também lembra de ter
ajudado a distribuir panfletos que apoiavam a greve dos metalúrgicos do ABC, em
São Paulo. "Vendíamos 'bônus' na frente da Catedral de Florianópolis para
ajudar os metalúrgicos", comentou. Foi assim que se aproximou dos
sindicatos de classes e conheceu o Partido dos Trabalhadores (PT), no qual se
filiou em 1980.
Após a formatura no curso de Economia,
aos 23 anos, foi em busca do primeiro emprego. "Me dei conta que não havia
um Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
em Florianópolis. Liguei para o órgão e mostrei interesse em implantar. Eles me
pagaram a passagem e depois disso foi aberto o escritório na cidade",
disse Boppré, que permaneceu durante 10 anos como funcionário do Dieese.
Segundo ele, por seu conhecimento em
economia e a aproximação com os sindicatos, também dava aulas para operários
sobre campanha salarial, economia política, negociação coletiva, entre outros
temas relacionados à política trabalhista. Além disso, também atuou como
professor em universidades catarinenses, inclusive a UFSC.
Em 1990, se candidatou pela primeira
vez ao cargo de deputado federal, mas não se elegeu. Dois anos depois, foi
eleito vice-prefeito de Florianópolis e na eleição seguinte, em 1996, concorreu
ao cargo de prefeito. Em 2002, foi eleito deputado estadual e ficou por dois
mandatos na função. No período, em 2005, rompeu com o PT e se filiou
ao PSOL.
"Senti como se tivesse entrado em
um ônibus para ir para Tubarão, mas no meio do caminho o motorista resolveu
mudar o caminho e ir para Lages. A quem eu era fiel? Ao ônibus ou ao propósito
de chegar ao destino? Por isso resolvi mudar de partido, mesmo que isso representasse
recomeçar", disse.
Sua última eleição, em 2012, foi como
vereador de Florianópolis, mandato que exerce atualmente.
Qual considera a maior potencialidade
do estado?
Santa Catarina tem sociodiversidade,
inclusive territorialmente. Temos a felicidade de possuirmos uma multiplicidade
de etnias, economia diversificada, culturas variadas e riquíssimas. Considero
nosso estado rico, mas injusto, onde há injustiça social não só entre ricos e
pobres.
Qual considera o maior problema do
Estado?
A desigualdade. Temos em Florianópolis
Jurerê Internacional e ao lado a favela do Siri. No estado, temos cidades como
Lebon Régis, Tigrinhos e Santa Terezinha do Progresso com IDH baixíssimo,
enquanto outras estão entre as melhores do país. Precisamos combater a disparidade,
através da cooperação, que se choca com o capitalismo e a concorrência entre os
estados.
Como pretende mudar o estado nos
próximos 4 anos?
Tenho que reconstruir uma concepção de
sociedade. O governo do estado tem muitas condições de fazer isso e esse é o
valor com o qual eu quero trabalhar. Preciso assentar a sociedade no valor da
cooperação e não da concorrência. Quando falo em desigualdade, quero dizer que
não é só dar o pão e o café, mas combater a lógica social que produz
diferenças. Essas disparidades existem e a lei de produzir desigualdade
continua mesmo que o cidadão já esteja comendo o pão. Elas precisam ser
combatidas e o governo tem que ter essa função. Estou chocando contra o
capitalismo porque o que está disposto hoje é a velha economia.
Fonte: Site O Globo 18/08/2014
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