Aos 79 anos, a candidata a governadora
de Santa Catarina pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), Marlene Soccas,
acumula histórias que incluem tortura e dois anos de prisão por envolvimento
com a luta armada e os ideais comunistas.
Marlene afirma que, se eleita,
pretende chamar os trabalhadores para opinarem sobre as decisões do governo.
Entre os dias 18 e 27 de agosto,
o G1 publica os perfis dos candidatos ao Governo de Santa Catarina. A
ordem de publicação foi definida por sorteio na RBS TV, com participação de
representantes dos partidos. Além disso, todos os candidatos responderam as
mesmas perguntas.
Natural de Laguna, no Sul catarinense,
Marlene perdeu o pai aos 5 anos e foi morar com um casal de tios. Quando tinha
8, o pai adotivo também morreu e a então menina passou a viver apenas com a
tia, a quem auxiliava a fazer doces para ajudar no orçamento da casa. Elas
mudaram para Florianópolis, onde Marlene diz que alguns anos mais tarde
conheceu os ideais comunistas, através de filmes sobre a União Soviética e de
palestras de um professor de matemática que havia sido expulso do Exército.
Em 1955, se formou em odontologia, em
Florianópolis. Depois, foi trabalhar em Joinville, no Norte do estado, onde se
casou pela primeira vez. Após a separação foi morar com a mãe biológica em
Criciúma, no Sul.
Após atuar quase uma década como
dentista, ela conta ter iniciado especialização na Universidade de São Paulo
(USP), na década de 1960. Havia acompanhado o Golpe de 1964, mas depois da morte
do estudante Edson Luís de Lima Souto, no Rio de Janeiro, durante uma passeata
contra o regime militar, decidiu tomar uma decisão radical.
"Eu
estava ali, cuidando da minha vida pessoal enquanto no Brasil estava
acontecendo tudo aquilo. Então, ou continuava cuidando de mim mesma ou jogava
isso para o alto e me integrava à luta dos brasileiros contra a ditadura",
disse ela, que inicialmente participou dos confrontos armados e posteriormente
decidiu inclusive abandonar a odontologia, quando estava com cerca de 30 anos
de idade.
"Os diplomas ficaram na parede e
fui trabalhar como operária em uma fábrica de peças para carros em São José dos
Campos. Concordava com os motivos, mas não mais com a luta armada. Em vez de
convencer as pessoas, eles começaram a viver fugindo. Eu queria estar na
fábrica para conversar sobre o que eu acreditava", contou ela, que voltou
para Santa Catarina algum tempo depois.
Já o engajamento com a política
partidária, segundo ela, passou por duas siglas. "Em 1982, participei das
discussões para fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), mas logo saí por
entrar em conflito ideológico. Em 1985, quando o Partido Comunista conseguiu a
legalização, passei a fazer parte do grupo”, comenta.
De volta a Santa Catarina, retomou a
carreira como dentista, casou pela segunda vez aos 46 anos com um operário
metalúrgico e adotou dois filhos: Ana, hoje com 45 anos e formada em
psicologia, e Iuri, estudante de odontologia. Além disso, em 2010, formou-se no
curso de história e depois concluiu pós-graduação na área. Prestes a completar
80 anos, em setembro, e com o terceiro livro lançado, ela continua atuando como
dentista e fazendo parte de comissões que buscam o paradeiro de vítimas
catarinenses da Ditadura.
Qual considera o maior problema do
Estado?
Organizar os trabalhadores, dar
consciência de que eles têm uma força imensa, porque são eles que produzem as
riquezas. São que os capitalistas, os patrões, colocam essa riqueza no bolso.
Em uma fábrica de sapatos, você tira o patrão e a fábrica continua, mas se
colocar o patrão na fábrica e tirar os operários, a fábrica para. O apetite do
capitalismo pelo lucro é o que devora tudo, é o que faz a destruição da
dignidade, leva ao tráfico, à criminalidade e outros problemas.
Qual considera a maior potencialidade
do Estado?
Santa Catarina pode ser o celeiro do
Brasil, produz, exporta carne suína, aves, cereais, é um grande estado, o que
nós temos um país com clima muito bom, favorável à agricultura.
Como pretende mudar o Estado nos
próximos quatro anos?
Começando por organizar os
trabalhadores. Serão chamados para participar do governo. Vou perguntar a
todos: como vocês querem que eu faça? Vou também fazer uma auditoria para ver o
dinheiro que é remetido para o exterior, pagar saber o que se deve e não pagar
o que é injusto. Também quero fazer uma Reforma Agrária e rever as remessas de
dinheiro para o governo federal. Quanto vamos enviar? Quanto vamos aplicar na
saúde e outras áreas? É o trabalhador é que tem que decidir.
Fonte:
Site Globo.com 26/08/2014
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