O empresário Fernando Antonio Falcão
Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de cartel,
corrupção e propina na Petrobras,
afirmou à Polícia Federal ontem que
intermediou dois projetos de construção de sondas de perfuração na área da
diretoria Internacional e pelos quais receberia US$ 20 milhões, via empresário
Julio Gerin Camargo, da empreiteira Toyo Setal. Baiano afirmou, porém, que
levou um calote. Nas palavras do executivo, que fez acordo de delação premiada
na Operação Lava Jato e também depôs ontem, a versão é outra: Baiano foi pago
junto com o doleiro Alberto Youssef. Foram, disse, US$ 40 milhões em propinas.
A Polícia Federal suspeita que o
reduto de ação de Fernando Baiano na Petrobras era a diretoria Internacional,
que foi comandada por Nestor Cerveró, personagem emblemático da compra da
Refinaria de Pasadena, nos EUA, indicado pelo PMDB ao cargo. Baiano disse ontem
que suas comissões eram legítimas e negou ser "operador de qualquer
partido".
Em seu acordo de delação, o executivo
da Toyo Setal, porém, relatou que, diante do conhecido "bom
relacionamento" de Baiano junto à área Internacional da Petrobras, ele o
procurou e "propôs ao mesmo uma parceria para o desenvolvimento" de
um projeto de perfuração de águas profundas, em 2005. O papel de Baiano seria a
análise sobre a viabilidade técnica e econômica da contratação pela Petrobras.
Segundo Camargo afirmou no depoimento, ele utilizou a Piemonte Empreendimentos,
de sua propriedade, e foi indicado por Baiano.
Para reduzir a pena e não ser preso,
Camargo decidiu contar o que sabia. Ele afirmou que "antes de ser
finalizada a negociação comercial, Fernando Soares reuniu-se com o declarante e
disse que ‘precisaria estabelecer os valores’". O delator disse ter usado
três empresas suas para pagar Baiano via Youssef.
Intermediador. Já em seu depoimento à
PF, o empresário declarou ter intermediado doação partidária a pedido do
doleiro. "Youssef disse que mantinha bons contatos com a Andrade Gutierrez
e que a mesma possuía contratos com a Petrobras, pedindo que fossem feitas
gestões junto à mesma para que realizassem doações", declarou Baiano, que
foi ouvido pelos delegados da Lava Jato, em Curitiba.
O operador do PMDB afirmou então que
procurou o ex-presidente da empresa, Otávio Marques Azevedo, que respondeu
"que a empresa escolheria a quem doar e de forma oficial, dispensando
intermediários".
"Ao comunicar Youssef acerca
dessa posição, o mesmo ficou muito nervoso e disse que a Andrade Gutierrez
passaria a ter problemas junto aos contratos da Petrobras", disse Baiano.
Ontem, o juiz federal Sérgio Moro
decidiu manter preso o operador, sustentando que há elementos para apontar
"propina para Fernando Baiano".
Além das provas e depoimentos, o juiz
considerou "os valores milionários em contas de empresas controladas por
Fernando Soares" como "prova suficiente de materialidade e de
autoria" para decretar a preventiva do lobista. Ele ainda transcreveu
depoimento dos delatores do grupo Toyo Setal para comprovar o esquema de
propina nos projetos da sonda de perfuração.
Esclarecimento:
Em nota, a Andrade Gutierrez nega
envolvimento com irregularidades e informa "que não enfrenta ou enfrentou
qualquer tipo de dificuldade nos contratos firmados com a Petrobras".
"Cabe esclarecer ainda que o Sr. Fernando Soares procurou algumas vezes a
Andrade Gutierrez para apresentar propostas de associação com grupos
estrangeiros que representava no Brasil. No entanto, nenhum tipo de consórcio
nesse sentido foi efetivado." As informações são do jornal O Estado
de S.Paulo.
Fonte: Site O Globo 21/11/2014
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