A presidente Dilma Rousseff se
emocionou e chorou nesta quarta-feira (10), durante a cerimônia de entrega do
relatório final da Comissão Nacional da Verdade, ao lembrar quem morreu e lutou
contra a ditadura militar.
Ex-presa política, a chefe do Executivo afirmou em
seu discurso que o documento elaborado ao longo de dois anos e sete meses ajuda
o Brasil a “se reconciliar consigo mesmo” após os anos de ditadura militar.
“Estou certa de que os trabalhos
produzidos pela comissão resultam do esforço pela procura da verdade, respeito
da verdade histórica e estímulo da reconciliação do país consigo mesmo, por
meio da verdade e do conhecimento”, afirmou.
A Comissão da Verdade entregou a Dilma
o relatório final sobre as violações aos direitos humanos cometidos entre 1946
e 1988, especialmente na ditadura militar, de 1964 a 1985. A divulgação ocorre
quando se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
O documento lista os responsáveis pela
repressão política, além de 434 vítimas dos crimes cometidos. Há ainda a
relação dos locais onde ocorriam as sessões de interrogatórios forçados,
prisões ilegais e desaparecimentos forçados. A íntegra dos três volumes, com
mais de 2 mil páginas, será disponibilizada às 11h no site oficial da comissão.
Em discurso, o coordenador da Comissão
Nacional da Verdade, Pedro Dallari, disse que o relatório recomenda a criação
de um órgão público para dar seguimento aos trabalhos iniciados pelo colegiado,
inclusive com investigações que possam identificar mais vítimas da ditadura
militar. “Certo que o rol de vítimas do relatório não é definitivo”, disse.
Dallari afirmou ainda ter a convicção
de que as violências cometidas no período da ditadura militar não voltarão a
ocorrer. “Cumprimos o que a lei determinou. Em meu nome pessoal [e dos demais
integrantes da comissão] oferecemos a vossa excelência e ao país este
relatório, com a firme convicção de que os fatos nele descritos não se
repetirão nunca mais”, afirmou.
Ao fazer agradecimentos, Dallari
afirmou que o ministro da Defesa, Celso Amorim, soube dialogar, apesar das
resistências entre militares aos trabalhos da comissão. “Aqui quero fazer um
registro especial ao relacionamento que houve com o Ministério da Defesa, em
que pese as circunstâncias difíceis, em nenhum momento deixou de haver um
diálogo respeitoso e relacionamento institucional entre entes do estado
brasileiro.”
O relatório é composto de três volumes
e dividido em 18 capítulos. O primeiro descreve os fatos principais da
ditadura, desde o contexto histórico que antecedeu o golpe militar de 1964, passa
pela criação dos órgãos de repressão, as ações de repressão no exterior (como a
Operação Condor, de colaboração com ditaduras latino-americanas), além dos
métodos usados na repressão aos opositores do regime.
Há ainda um capítulo sobre a atuação
do Judiciário, outro sobre a guerrilha do Araguaia (iniciativa de luta armada a
partir do campo no Norte do país), além da relação de locais onde ocorreram as
violações e a lista de responsáveis indiretos e diretos pela implantação,
manutenção e prática sistemática de torturas, homicídios e prisões ilegais. Uma
última parte contém as conclusões e recomendações.
O segundo volume traz estudos
elaborados por equipes coordenadas pelos membros da comissão sobre diversos
grupos que sofreram ou colaboraram com a repressão. Há, por exemplo, capítulo
dedicados aos militares perseguidos ou a empresários que ajudaram na
perseguição. Há também textos referentes à perseguição contra operários,
camponeses, universitários, religiosos, homossexuais, além de um sobre os
grupos armados de oposição.
O terceiro e último volume conta a
história de cada um dos 434 mortos e desaparecidos identificados pelo grupo,
bem como as circunstâncias que os levaram à morte. Os relatos mostram o
sofrimento por que passaram e fazem reverência à oposição que fizeram ao regime
de exceção.
Fonte:
Site Globo.com 10/12/2014
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