A 13ª Vara Federal de Curitiba
liberou, na manhã desta quarta-feira, o conteúdo da delação premiada do lobista Augusto
Ribeiro de Mendonça Neto, que trabalhou para a empreiteira Toyo-Setal.
Em depoimento prestado em 29 de
outubro — mas só divulgado hoje — ele detalha como as maiores
empreiteiras do país formaram um cartel para ganhar as principais concorrências
na Petrobras. O delator afirma e reafirma que isso foi conseguido mediante
propina a dirigentes da estatal.
Apelidado de "clube", o
cartel era inicialmente composto de oito empresas. Com o tempo, passou a ser
formado por 16 empreiteiras, que se revezavam no ganho de contratos. Além de
detalhar os privilégios obtidos pelas companhias - listando uma a uma as obras
viabilizadas mediante suborno — Ribeiro fala que o dinheiro era canalizado
para partidos que compõem as diretorias da Petrobras.
Os arranjos com relação ao PP, por
exemplo, foram feitos pelo deputado federal José Janene (falecido em 2010). Ele
procurou todas as empresas do "clube" e disse ser o responsável pela
nomeação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras,
diz Ribeiro.
O lobista afirma que Janene era
extremamente duro nas negociações e exigia "regularidade" no
pagamento de propinas, feito a empresas indicadas por Costa. Em alguns casos em
que as empreiteiras pediram aditivos "por razões técnicas", Paulo
Roberto Costa negou, possivelmente por divergências em relações a valores de
subornos. E as empresas privadas tiveram grande prejuízo, já que não puderam
ampliar as obras.
Ribeiro relata também que houve uma
combinação entre o ex-diretor de Engenharia da Petrobras, Renato Duque
(indicado pelo PT) e integrantes do "clube" de empreiteiras para que
se estabelecesse uma lista de convidados para licitações na Petrobras, em troca
de uma "comissão". Isso começou em 2004 e, a partir dali, todas
empresas começaram a negociar sua participação mediante pagamento de
"comissões", avaliadas em 2% do valor dos contratos. "Uma
comissão, na Repar, chegou a R$ 65 milhões", detalha Augusto.
O delator assegura que os pagamentos
em favor de Renato Duque se deram de três formas: 1) parcelas em dinheiro 2)
remessas em contas indicadas no Exterior 3) doações oficiais ao Partido dos
Trabalhadores (PT).
Ribeiro conta ainda que, para entregar
o suborno a Duque, as empreiteiras faziam contratos simulados de aluguel de
equipamento de terraplenagem em refinarias, sem o respectivo serviço, para
empresas com nomes como Legend, Soterra, Power, SM Terraplenagem e Rockstar.
Que essas empresas eram pagas em contas no Exterior ou em dinheiro em
espécie, entregue pelo próprio declarante no seu escritório em São Paulo a um
emissário de Renato Duque. Noutras vezes, era um subordinado de Duque, Pedro
Barusco, quem solicitava a entrega de dinheiro em espécie num escritório
indicado por ele.
Fonte:
Site Globo.com 03/12/2014
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