Um Raimundo Colombo (PSD) diferente
surpreendeu os 68 secretários estaduais, presidentes de empresas estatais,
fundações e autarquias que participaram da reunião do colegiado, na
segunda-feira, em Lages.
Pela primeira vez em 17 meses, o
governador levantou a voz para cobrar o que chamou de "gestão moral".
Por trás do discurso, surge um Colombo aflito com o desempenho do próprio
governo e preocupado com o futuro do Estado.
— Agora é para valer — disse,
mais de uma vez, o governador para a plateia formadas pelos gestores que ele
mesmo escolheu, reunida ali para prestar contas do primeiro mês de vigência do
decreto que disciplina o corte de gastos do governo. Mais do que informar a
economia de R$ 2,5 milhões em funcionários terceirizados e aluguel de veículos
nos primeiros 30 dias, Colombo queria ouvir de cada um, o que foi feito para
tirar do papel às medidas de economia. Todos falaram, das 8h30min às 17h,
quando Colombo assumiu o microfone e fez o desabafo em que citou até a
presidente Dilma Rousseff (PT), que teria a popularidade mais escorada em
medidas moralizantes do que em ações de governo.
As inquietações de Colombo eram
anteriores ao encontro.
— Desde o ano passado, ele vem
tentando criar no governo uma cultura de resultados e de respeito à gestão. Ele
errou muito, por falta de método. Aquilo (o discurso) foi um tudo ou
nada — afirma um colaborador.
As preocupações germinaram em um
cenário de queda de arrecadação por reflexos da crise econômica mundial e da
aprovação da Resolução 72 pelo Senado, que impede Santa Catarina de usar os
incentivos fiscais para movimentar os portos do Estado. Ao mesmo tempo, as
mudanças no perfil da Casa Civil, sob comando do secretário Derly de Anunciação,
deixaram o governador mais próximo do dia a dia da gestão de governo. Derly
admite as preocupações, especialmente em relação à queda de arrecadação.
Entraves políticos para fazer ajustes
— Não é apenas não ter dinheiro
para investir. É dificuldade de cumprir os limites constitucionais, Lei de
Responsabilidade Fiscal — afirma.
Na noite de quinta, Colombo recebeu na
Casa d'Agronômica o ex-secretário da Fazenda Ubiratan Rezende, antigo
conselheiro. A conversa passou por temas como enxugamento da máquina, gestão e
as dificuldades políticas de fazer mudanças.
— Ele se sente muito frustrado
porque a máquina administrativa e os acertos políticos levaram o governo a uma
semiparalisia. Mas ele tem a impressão de que chegou o momento, de que pode
fazer coisas que planejava desde o início — revela Ubiratan.
O antigo e o atual braço direito de
Colombo concordam que o discurso feito ao colegiado pode marcar um novo período
no governo.
— Foi um recado claro de que as coisas
vão mudar — afirma Ubiratan.
— O modelo está falido e é preciso ter
a coragem de mexer — diz Derly.
Um grupo de auditores da Secretaria da
Fazenda tem se mantido de olho nas ações do próprio governo, sob o comando
direto do governador do Estado. Deslizes serão a deixa para que peças na máquina
administrativa sejam trocadas.
— O governador deixou muito claro que
não vai ter pudor de demitir. Existe muita gente boa no governo, mas muita
gente ruim também — analisa um gestor.
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