Dilma Rousseff nunca simpatizou
com a ex-assessora Rosemary Nóvoa de Noronha.
Desaprovava o jeito expansivo e a
influência conquistada pela antiga chefe do gabinete da Presidência em São
Paulo. Dilma só a manteve no cargo a pedido do padrinho de ambas, Lula.
Ao ser indiciada pela Polícia
Federal na Operação Porto Seguro por suspeita de tráfico de
influência e demitida do governo, a ex-assessora expôs o submundo dos
interesses e do loteamento de cargos do poder. Para assegurar sustentação
política, Dilma fez concessões ao PT, a partidos aliados e,
principalmente, a Lula. Recebeu do ex-presidente uma gestão aprovada pela
população e com importantes avanços sociais, mas também herdou Rosemary e
outras armadilhas.
— Ao terminar a eleição, Lula
apresentou uma fatura. Indicou pessoas que tinham de ser mantidas e outras que
ele recomendava manter — afirma um interlocutor petista.
Rose, a quem os adversários chamavam
de "segunda-dama" em virtude da proximidade com Lula, constava na
relação de intocáveis. Caiu após a divulgação dos desvios de conduta. É o
acordo de Dilma com o antecessor. Acata as indicações, mas quem expuser o
governo está fora. O mesmo vale para cargos inferiores, onde a fiscalização
ganhou mais força. No ano passado, a Controladoria-Geral da União demitiu 469
servidores federais, a maior soma de punições desde 2003.
A presidente elencou como os próximos
alvos da limpeza ética postos inferiores dos ministérios, além das agências
reguladoras. O envolvimento dos irmãos e diretores de agências reguladoras
Paulo e Rubens Vieira na quadrilha desbaratada pela PF reforçou a necessidade
de mudanças. As agências, por exemplo, oferecem cargos fatiados por correntes
políticas, que lidam com bilhões em recursos. Como destaca um assessor com
trânsito no Planalto, representam áreas que podem trazer mais surpresas
desagradáveis.
A postura rígida tem ajudado Dilma.
Ela consegue, aos poucos, impor seu perfil e sua equipe na máquina
governamental, apesar de sempre consultar Lula antes de qualquer nomeação
importante. A linha dura com os que são flagrados cometendo abusos não poupa
nem integrantes do primeiro escalão. A faxina instaurada na Esplanada, em 2011,
é um exemplo.
Nas áreas onde precisa atender
interesses políticos, a presidente se acostumou a apostar em um secretário
executivo de sua confiança ou a forçar mudanças de comportamento. Uma herança
que se adequou à nova gestão é Gilberto Carvalho. Chefe da Secretaria-Geral,
representa Lula no governo. No início do mandato, viu seu prestígio despencar.
Dilma isolou Carvalho ao descobrir que ele vazava informações para imprensa.
Devagar, o ministro controlou a língua e começou a recuperar sua imagem e
influência.
— Ele entendeu o jeito Dilma de governar
— atesta um servidor do Planalto.
ARTEFATOS
DESARMADOS
Siglas aliadas: – Ministros de Lula e
mantidos nos postos a pedido do ex-presidente, Alfredo Nascimento
(Transportes), Orlando Silva (Esporte) e Carlos Lupi (Trabalho) representavam
na Esplanada PR, PC do B e PDT. Atingidos por denúncias, foram afastados
durante a faxina ministerial.
PMDB: – Principal aliado do governo, o
PMDB foi forçado a substituir ministros na faxina do ano passado. Wagner Rossi
(Agricultura) e Pedro Novais (Turismo) caíram por denúncias de corrupção. O
partido seguiu com os cargos, apenas indicando os novos ocupantes.
Haddad: – Se dependesse de Dilma,
Fernando Haddad não teria integrado o primeiro escalão. O PT impôs sua
continuidade na Educação, com o acerto de que poderia concorrer à prefeitura de
São Paulo — cargo para o qual se elegeu. Haddad deu lugar a Aloizio Mercadante.
Defesa: – Outro nome que desagradava a
Dilma era Nelson Jobim, na Defesa. Como teve êxito na crise aérea e na relação
com os militares, permaneceu a pedido de Lula. No entanto, suas frases
polêmicas sobre colegas e declarações de voto ao PSDB lhe custaram o cargo.
Petrobras: – Afilhado de Lula, Sergio
Gabrielli continuou no começo do governo Dilma na presidência da Petrobras. No
entanto, as ressalvas quanto à gestão da petroleira forçaram a mudança. Dilma
colocou no comando da estatal Maria das Graças Foster, antiga diretora da
empresa.
Gabinete paulista: – Criado por Lula
para prestar apoio em São Paulo, o gabinete era comandado por Rosemary de
Noronha, que contava com o apoio do petista. Apontada pela PF como parte de uma
quadrilha que venderia pareceres técnicos para empresas privadas, foi demitida
por Dilma.
Fonte: Site Jornal A Notícia 08/12/2012
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