Em ano com evento esportivo e disputa
política, propostas com impacto na vida do povo patinam.
As cenas de produtividade no Congresso e
de parlamentares trabalhando até madrugada vistas em 2013 – principalmente
depois dos protestos – não devem se repetir neste ano. A Copa do Mundo em
junho e as eleições em outubro irão impor um ritmo letárgico ao Senado e
à Câmara.
Entre aliados do Palácio do
Planalto e representantes da oposição, há um consenso: o que não for
apreciado nos próximos três meses tem poucas chances de sair do papel ainda em
2014. E a fila de espera das propostas com impacto na vida dos brasileiros não
é pequena e se arrasta há anos.
Na semana passada, por meio de uma
mensagem lida na abertura dos trabalhos legislativos, a presidente Dilma
Rousseff orientou deputados e senadores a não aprovar propostas que
impliquem queda de receita ou aumento de gastos.
Além disso, segundo o vice-líder do
governo na Câmara, Henrique Fontana (PT), projetos polêmicos também
não devem ser levados a plenário, para evitar desgaste em ano eleitoral. Por
enquanto, segundo ele, só há acordo para as votações do marco regulatório da
internet e da atualização do Código de Processo Civil, que devem ocorrer nos
próximos dias:
— O governo quer um pacto pela
responsabilidade fiscal. Em ano de eleição, é grande a chance de se votar
projetos que oneram os cofres públicos.
Para o líder do PSB, deputado Beto
Albuquerque, o Planalto faz uso do regime de urgência para trancar propositalmente
a pauta de votações na Câmara – já que o instrumento obriga que matérias com
essa classificação sejam analisadas antes das demais:
— Nosso esforço será limpar a pauta
para chegar a matérias que interessam à sociedade, como a Lei Kiss e o piso dos
agentes da saúde.
Diante desse cenários, a análise de
projetos como o da reforma política, fator previdenciário e da PEC 300 — que
cria piso salarial para policiais e bombeiros — é considerada missão
impossível. Para a oposição, a única chance seria uma possível divisão da base
governista, com o objetivo de mostrar serviço e viabilizar temas de interesse
para o eleitorado.
— O governo não quer que o Congresso
vote nada que traga despesas, mas passou 12 anos gastando como se não houvesse
amanhã — disse Onyx Lorenzoni (DEM), vice-líder do DEM na Câmara.
Na semana passada, o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que o ano atípico não
impedirá a votação de projetos relevantes, como o Plano Nacional de Educação e
a PEC do trabalho escravo, além da reestruturação das dívidas de Estados e
municípios.
Segurança:
— O que é: a Lei Kiss atualiza a
legislação de prevenção e combate a incêndios em ambientes com grande
concentração de pessoas. Prevê, entre outras coisas, a criminalização da
superlotação, o fim das comandas e a obrigatoriedade de seguros.
— Onde parou: após a tragédia de
Santa Maria, a Câmara criou uma comissão para discutir a legislação. O texto já
foi aprovado em comissão e aguarda votação no plenário.
— O futuro: pouco mais de um ano
após a tragédia, a proposta tramita em regime de urgência, mas aguarda
deliberação do plenário desde outubro. Há chances de o projeto ser votado no
primeiro semestre.
Internet:
— O que é: espécie de
constituição da web, o marco civil da internet aborda questões do dia a dia do
internauta, como liberdade de expressão, pirataria, custo do serviço e
privacidade. O texto servirá de base para outras leis que tratem de assuntos
digitais.
— Onde parou: é discutido há dois
anos na Câmara, tramita em regime de urgência e tranca a pauta da Casa desde o
fim de outubro de 2013. O governo aproveita a situação para barrar a votação de
outros projetos.
— O futuro: o projeto deve ser
votado nos próximos dias, mas há divergências na base governista em relação ao
texto.
Domésticas:
— O que é: aprovada em março e
promulgada em abril, a PEC das domésticas ainda tem pontos pendentes de
regulamentação, como FGTS e seguro desemprego – o que causa incerteza entre
funcionários e patrões. Já a carga de oito horas diárias de trabalho está valendo.
— Onde parou: a regulamentação
dos direitos das domésticas já foi aprovada pelos senadores e seguiu para a
Câmara, onde é discutida em comissões.
— O futuro: existe a
possibilidade de a matéria ser levada ao plenário, mas não há previsão a
respeito de uma possível data para
votação.
votação.
Drogas:
— O que é: a Lei Antidrogas
permite a internação involuntária de usuários a pedido da família e de agentes
públicos. O texto também prevê o aumento da pena para o tráfico e isenção
fiscal às empresas que contratarem dependentes químicos em recuperação.
— Onde parou: aprovada em maio
pela Câmara, a nova lei é discutida na Comissão de Constituição e Justiça do
Senado.
— O futuro: por ser um tema
polêmico e que divide opiniões, são poucas as chances de a proposta ser
apreciada em um ano eleitoral.
Dívidas:
— O que é: o projeto reduz juros
e altera o índice de correção das dívidas dos Estados. É considerado vital para
o RS. A renegociação significará o fim do crescimento desenfreado da dívida e
resultará em diminuição de desembolsos a longo prazo.
— Onde parou: foi aprovado em
outubro na Câmara e seguiu para o Senado, onde está parado a pedido do governo,
preocupado que mudanças no texto comprometam o equilíbrio fiscal.
— O futuro: na semana passada,
com uma manobra baseada no regimento do Senado, o Planalto conseguiu impedir a
votação do projeto, que volta a tramitar nas comissões. A expectativa é de que
a análise ocorra depois do Carnaval.
Justiça:
— O que é: o projeto atualiza as
regras para os processos não penais, como ações trabalhistas, direito da
família e do consumidor. O atual Código de Processo Civil é de 1973. O texto
incentiva a conciliação e pretende agilizar a tramitação das ações, com
decisões iguais para casos similares.
— Onde parou: elaborado por uma
comissão de juristas, o texto foi aprovado em 2010 pelo Senado. Teve parte
votada na Câmara, mas ainda tem pontos que precisam ser apreciados.
— O futuro: dois destaques foram
votados na semana passada, e a análise deve continuar hoje, em sessão
extraordinária. Os parlamentares precisam avaliar mais de
30 pontos sobre os quais ainda não houve consenso.
30 pontos sobre os quais ainda não houve consenso.
No RS, Piratini avalia perda de
maioria. Dos 161 projetos enviados à Assembleia Legislativa pelo Palácio
Piratini no ano passado, 11 ainda aguardam parecer, sete foram retirados
ou devolvidos e dois estão na ordem do dia. O restante foi sancionado.
Como algumas das propostas são
polêmicas e o governo Tarso Genro perdeu a maioria na Casa, a
estratégia do Piratini deve começar a ser desenhada nesta semana, em uma
reunião entre Casa Civil e o líder do governo, deputado Valdeci Oliveira(PT).
— Temos de avaliar caso a caso. Não
adianta encaminhar o projeto sem quórum para aprová-lo — diz o petista.
Entre as propostas, figuram as duas
que criam subsidiárias do Banrisul para atuar na emissão e administração de
cartões e na distribuição de seguros, previdência e capitalização. Em dezembro,
para evitar uma derrota, o governo recuou um, retirando a urgência das duas
proposições.
Outra proposta que promete acirrar
ânimos é a que autoriza a contratação da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) para
fazer reparos em rodovias estaduais não pedagiadas, com financiamento do
governo.
Além das iniciativas do Piratini, a
instalação do ponto eletrônico no parlamento e a PEC da Água são outros
assuntos que podem ser debatidos neste “curto ano legislativo”.
Ao tomar posse, o presidente da
Assembleia, Gilmar Sossella (PDT), afirmou que uma das metas de sua
gestão será a implantação do ponto eletrônico. Segundo o superintendente-geral
da Casa, Artur Alexandre Souto, o conjunto de normas sobre a operação do
sistema deverá ser apresentado à Mesa Diretora até a próxima terça-feira. A
resolução dependerá de acordo para ser submetida ao plenário.
A Assembleia abriu edital para
contratação de empresa que forneça o equipamento, e as propostas serão
recebidas até o dia 21, quando está prevista a conclusão do pregão eletrônico.
Aguardando parecer da Comissão de
Constituição e Justiça, a PEC da Água pode ganhar força. O objetivo da
proposta, apresentada pela primeira vez em 2008, é garantir o caráter público
dos serviços de abastecimento. A novidade desta versão do texto é a exigência
de consulta popular antes de concessão ou privatização do serviço.
Fonte: Site A Notícia 11/02/2014
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