Informações de uma pesquisa de
intenção de voto do instituto Veritá usadas na propaganda de segundo turno do
tucano Aécio Neves são comprovadamente enganosas.
Quem
confirma é o próprio dono do instituto que fez o levantamento, Adriano Silvoni.
E também o estatístico responsável pelas pesquisas do Veritá, Leonard de Assis.
A informação infundada era a liderança
de Aécio em Minas Gerais com 14 pontos de vantagem sobre Dilma Rousseff (PT):
uma pesquisa que o mostrava com 57% ante 43% da petista.
O enredo que levou o PSDB a propagar
esses números começa em 6 de outubro, logo após o primeiro turno, quando o
Veritá conclui uma pesquisa nacional para presidente com 5.161 entrevistas,
estudo registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o código
BR-01067/2014.
Tanto o número de entrevistas quanto
os municípios de coleta de dados foram definidos pelo Veritá para retratar a
disputa eleitoral no Brasil como um todo. O
total de eleitores ouvidos em Minas era suficiente para compor o quadro
nacional, mas insuficiente para retratar a realidade local.
Assim, a pesquisa apontou Aécio com
54,8% em todo o Brasil contra 45,2% para Dilma, diferença de 9,6 pontos.
Segundo Assis, dias após a divulgação
desse placar, o publicitário Paulo Vasconcelos, responsável pela propaganda de
Aécio, pediu para que o Veritá fornecesse os dados das entrevistas feitas só em
Minas.
"O estudo não foi feito com essa
finalidade", diz. Silvoni, o dono do Veritá, confirma: "Para Minas,
foram 561 questionários. Não é confiável".
Mesmo assim, eles acabaram autorizando
o envio dos dados. "Eu falei: 'pode pegar, mas cite, por favor, que não
representam a realidade de Minas'", lembra Assis.
Se fez mesmo o alerta, não adiantou.
No dia 14 de outubro, às 17h06, o site do jornal mineiro "Hoje em
Dia" publicou que, segundo o Veritá, Aécio tinha 57% dos votos de Minas
contra 43% de Dilma, uma vantagem de 14 pontos.
Em seguida, a campanha do PSDB começou
a distribuir um release dizendo que o tucano estava 14 pontos à frente no
Estado. E na mesma noite, dirigindo-se à Dilma no debate da Band, o próprio
Aécio citou: "Pesquisas [em Minas] mostram que estou mais de 10 pontos na
sua frente".
Na época, o PT explorava a derrota do
tucano entre os mineiros no primeiro turno. Na TV, a campanha de Dilma repetia:
"Quem conhece Aécio não vota em Aécio".
No dia 15, os números não
representativos do Veritá passaram a ser mostrados também na propaganda de TV
do PSDB, que atribuiu a informação ao jornal "Hoje em Dia".
"Eles não podiam usar nesse
contexto", diz Assis. "Nós avisamos [...] Usou na garganta. Não
representa Minas. Não é o real cenário do Estado."
A Lei Eleitoral diz que a comprovação
de irregularidade em dados publicados de pesquisa sujeita os responsáveis às
penas de seis meses a um ano de detenção e multa. Assis
afirma que, ao entregar uma tabela com percentuais não representativos de cada
Estado, fez questão de incluir uma nota sobre a não validade das informações.
No rodapé do documento que ele diz ter
enviado, consta: "Resultados apresentados nesta tabela em cada Estado não
podem ser considerados como estimativa do mesmo pois a pesquisa não foi
planejada com tal objetivo".
CLIENTE:
Além do problema dos números
enganosos, a pesquisa do Veritá pode ter sido registrada de forma fraudulenta.
No TSE, consta que o Veritá é, ao mesmo tempo, o contratado e o contratante do
estudo, orçado em R$ 300 mil.
Dias atrás, num fórum de debates na
internet que reúne profissionais da área de pesquisa, Leonard de Assis afirmou
que o formulário do TSE foi preenchido dessa forma porque "o contratante
[real] não quis aparecer".
À Folha, o estatístico confirmou
a informação. Mas não quis dizer quem verdadeiramente pagou pelo trabalho.
Neste ponto, há uma divergência entre
Assis e o dono do Veritá. Adriano Silvoni afirma que os recursos usados para a
realização da pesquisa saíam do próprio Veritá.
Fonte:
Site folha.uol.com.br 29/10/2014
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