BRASÍLIA - O rombo das contas externas
brasileira bateu recorde em 2014, pelo quinto ano seguido.
O déficit de todas
as trocas de serviços e do comércio do país com o resto do mundo ficou em US$
90,9 bilhões. É o pior desempenho desde quando o Banco Central passou a
registrar os dados em 1947. O resultado frustrou a expectativa do BC que era de
fechar o ano no vermelho em US$ 83,5 bilhões. Nem mesmo a valorização do dólar,
que poderia impulsionar as exportações e melhorar o perfil das contas externas,
fez com que o Brasil não aumentasse o rombo.
Muito pelo contrário. Esse déficit
representa nada menos que 4,17% de tudo o que a economia brasileira produziu em
2014 (Produto Interno Bruto, PIB). É a pior relação entre o resultado negativo
das contas externas e o PIB nos últimos 13 anos para qualquer mês, segundo o
BC.
— O resultado foi influenciado pela
balança comercial (que ficou no vermelho em US$ 3,9 bilhões no ano passado). O
déficit de 2015 deve diminuir devido à melhora da balança comercial — frisou o
chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
Nem de longe, esse rombo de 2014 foi
coberto pelos investimentos estrangeiros diretos, considerados de melhor
qualidade porque entram no país para ampliar a capacidade produtiva, geralmente
por aumento na participação do capital das companhias multinacionais instaladas
no Brasil. Em 2014, esse tipo de investimento representou apenas 2,87% do PIB.
Ou seja, entraram US$ 62,5 bilhões. No ano anterior, entraram US$ 64 bilhões.
— Em termos de financiamento de conta
corrente, qualitativamente, a mudança é muito modesta — avaliou Maciel quando
questionado sobre o fato de o investimento suprir apenas 70% do rombo nas
contas externas. Em 2013, representava 77%.
No entanto, isso não significa que o
Brasil começou a queimar reservas em dólares. Isso porque entra moeda americana
por outros tipos de mecanismos, entre ele, as aplicações do mercado financeiro.
Quando um país passa a financiar o déficit não apenas com os dólares do
investimento direto, os economistas lembram que essa nação fica mais dependente
de capital especulativo, ou seja, que pode sair facilmente numa simples troca
de cenário internacional.
É isso que vive o Brasil. A conta
financeira ficou no azul em US$ 99,6 bilhões em 2014, sendo que o investimento
produtivo está nessa soma. Só em investimento em carteira, o país recebeu US$
30 bilhões. Juros mais altos - como no caso brasileiro - atraem investidores
internacionais que procuram ampliar os lucros.
Em 2014, as contas do setor externo
mostram dados que definem a situação do país: as multinacionais remetem ao
exterior quase a mesma quantidade de dólares do que a deixada por turistas
brasileiros lá fora durante as férias. Segundo o BC, a remessa de lucros e
dividendos foi de US$ 26,5 bilhões. Já os gastos de viajantes foi de nada menos
que US$ 25,6 bilhões (os maiores desde 1974).
— Devemos ver em 2015 um cenário
parecido com o de 2014 - previu Maciel.
PUBLICIDADE: De acordo com a
autoridade monetária, nem mesmo a Copa do Mundo turbinou as receitas do Brasil
com o turismo internacional. No ano, os ganhos subiram apenas US$ 210 milhões
em relação a 2013. O país recebeu US$ 6,9 bilhões. No ano anterior, ganhou US$
6,7 bilhões
Enquanto turistas torram dólares no
exterior, o comércio exterior tem déficit. O país gasta muito mais com serviços
do que fatura. Não foi diferente em dezembro.
No mês passado, as contas externas
tiveram um rombo de US$ 10,3 bilhões. A previsão do BC era de um déficit bem
menor de US$ 6,2 bilhões. Já a entrada de investimento estrangeiro direto foi
de 6,7 bilhões. Também não foi suficiente para financiar o resultado de
dezembro.
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