Aposta das cabeças por trás das
campanhas é a de que a internet assumirá papel central neste ano.
Prevendo que a internet terá papel
central na campanha deste ano, os três principais nomes da corrida presidencial
já se mobilizam para a disputa dos votos dos usuários das redes sociais.
O embate entre petistas e o governador
pernambucano e provável candidato ao Planalto, Eduardo Campos (PSB), na semana
passada, quando um texto publicado na página oficial do PT no Facebook chamou o
adversário de "tolo", "playboy" e "mimado", jogou
luz sobre o potencial de estrago desse tipo de ferramenta.
A reação foi forte no PSB, que ameaça
agora fazer oposição sistemática à presidente Dilma Rousseff no Congresso. O
PSDB aproveitou a oportunidade para se solidarizar com Campos e criticar o
adversário histórico. Houve polêmica mesmo dentro do PT.
— Nunca houve tantos brasileiros na
internet. Hoje, quase 50% da população brasileira é internauta. A estimativa é
que esse número chegará a 70% até o fim do ano — afirma Raquel Recuero,
pesquisadora de mídias digitais da Universidade Católica de Pelotas (RS),
que coordena atualmente um estudo sobre o impacto das redes sociais na
campanha eleitoral deste ano.
Os petistas justificam o investimento
na campanha virtual afirmando que já foram vítimas de campanhas difamatórias na
internet, como em 2010, quando Dilma foi alvo de uma série de e-mails apócrifos
que a acusavam, entre outras coisas, de ser "terrorista", pelo fato de
ter participado de um grupo guerrilheiro contra o regime militar.
Agora, quatro anos depois, quando as
chamadas "correntes" de internet deram lugar a posts no Facebook e
micromensagens no Twitter, o partido volta sua atenção às redes com a
contratação de uma agência especializada no tema, a Pepper Interativa, para
mapear tudo que é falado sobre a presidente.
A ideia é identificar no nascedouro
rumores e boatos. Para tanto, a Pepper possui ferramentas que permitem
rastrear perfis falsos, temas recorrentes ligados aos candidatos adversários e
os chamados "golpes baixos".
Além da agência, o partido conta com
uma equipe de quatro pessoas que produz conteúdo para os canais oficiais: a
página do partido na internet, a conta no Twitter e os perfis da presidente
Dilma no Facebook.
O PT também espera ter durante a
campanha as análises do sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade
Federal do ABC, consultor e especialista em redes sociais.
Pesquisas apresentadas por ele à
direção do partido mostram que as redes sociais são o principal ambiente de
discussão política na internet: 70% dos internautas brasileiros estão
conectados no Facebook e 15% no Twitter.
— Tem muita coisa falsa feita de
propósito para confundir as pessoas e parecer que foi o PT — diz Alberto
Cantalice, vice-presidente e responsável pela ação do PT nas redes sociais.
Foi Cantalice quem autorizou a
publicação do texto com ataques a Campos na página do partido no Facebook.
Já Dilma, que havia abandonado as
redes sociais após as eleições de 2010, voltou a usá-las em setembro de 2013.
Desde então, faz comentários diversos no Twitter e anuncia medidas do governo.
:: Uso da máquina
Se os petistas acusam os adversários
de terem promovido uma "guerra suja" em 2010, os tucanos respondem
acusando a presidente de usar a máquina para ampliar a capilaridade das redes
sociais.
— Eles têm uma rede de guerrilha na
internet que nos ataca o tempo todo. Foi montada pelo ex-ministro Franklin
Martins e foi por ela que a presidente Dilma Rousseff fez chegar a todos os
servidores públicos a sua mensagem de Natal — afirma o deputado Marcus
Pestana, presidente do PSDB mineiro e um dos principais aliados do senador
Aécio Neves, provável candidato ao Planalto.
— Isso não é verdade. ê uma bobagem
imaginar que o governo tem que estar por trás para que a sociedade faça
qualquer coisa — devolve o ex-ministro da Comunicação Institucional de
Lula, que nega as acusações.
Durante a campanha, a agência Pepper,
dos petistas, será subordinada ao marqueteiro João Santana. Embora seja muito
citado por petistas como provável coordenador da estratégia de comunicação,
Franklin Martins diz que ainda não recebeu nenhuma proposta oficial para
trabalhar na campanha.
:: Profissionalização
Depois de assumir a presidência
nacional do PSDB no ano passado, Aécio profissionalizou a estrutura de
comunicação do partido nas redes sociais. Para unificar e capilarizar o
discurso da legenda e dar viabilidade ao seu projeto presidencial, ele passou a
promover em Brasília encontros da sua equipe com os assessores de imprensa dos
27 diretórios estaduais tucanos, além dos profissionais responsáveis pela
comunicação das bancadas do PSDB no Congresso.
Para a campanha, o nome mais cotado
para cuidar das redes sociais é um velho conhecido dos petistas mineiros: o
programador Pedro Guadalupe. Em 2012, ele trabalhou na equipe de João Santana
que fez a campanha de Patrus Ananias para a prefeitura de Belo Horizonte. No
ano seguinte, mudou de lado. Estava contratado pelo PP, partido do
vice-governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, quando começou a se
aproximar da equipe de Aécio.
Para impressionar o provável
candidato, produziu no Youtube um vídeo polêmico, onde fez um clipe com uma
paródia da música "Faroeste Caboclo" com críticas ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. O material fez tanto sucesso nas redes sociais que o
filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, ingressou com um pedido na Justiça
para que o vídeo fosse retirado.
— Eu quis mostrar serviço,
literalmente — diz Guadalupe. Pouco tempo depois, passou, segundo ele, a
prestar assessoria informal à equipe do senador.
Uma vez fechado o contrato, Guadalupe
terá de se mudar para São Paulo, onde o PSDB montará sua base de internet, a
ser comandada por Xico Graziano, diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso
e ex-chefe de gabinete do ex-presidente. Já pensando na campanha,
Guadalupe conta que montou um "casting" com atores sósias de Lula e
Dilma.
— O uso desses atores vai depender
muito da situação — revela
:: Resposta automática
Campos não tem o hábito de navegar nas
redes sociais. Mesmo assim, são raros os comentários em posts feitos em sua
página no Facebook que ficam sem resposta. No sábado, por exemplo, ele foi
acusado por uma internauta chamada Ana Maria de censurar seus comentários
"por medo do PT". Menos de 20 minutos depois, veio a resposta
— Não temos medo de partido nenhum
(...) Quem tem medo, Ana Maria, é quem não quer que as coisas mudem, porque vão
mudar — foi postado em seu perfil.
A atual de equipe de Campos para a
função é formada por dois diretores de arte, dois redatores e três analistas de
mídias sociais. Um dos coordenadores da candidatura de Campos, o deputado Júlio
Delgado (PSB-MG) afirma que haverá dois tipos de eleitor no ano que vem.
O primeiro será o das grandes cidades,
que terá bandeiras específicas, como a denúncia dos gastos excessivos com os
estádios para a Copa, a promessa não cumprida de vias para melhorar o trânsito
e a mobilidade urbana, e o dos municípios pequenos, onde não haverá jogos da
Copa do Mundo.
:: Conhecimento
Delgado lembrou que a Rede
Sustentabilidade levou para o PSB um forte conhecimento do uso das redes
sociais. Ele acha que esse fator será fundamental para definir se Aécio ou
Campos vai enfrentar Dilma no 2.º turno da eleição, porque um deles terá de
conquistar o eleitor pela internet, visto que terão muito menos tempo de
propaganda na TV do que a presidente da República em sua campanha pela
reeleição.
O coordenador das redes sociais do PSB
será Cássio Martinho, hoje porta-voz da Rede, juntamente com a ex-ministra Marina
Silva. Coordenador na internet da campanha de Dilma em 2010, Marcelo
Branco diz que em 2014 a rede social será muito importante para qualquer
candidato.
— No espaço da rede social o eleitor
se torna o dono de sua própria opinião. É ele que diz o que quer. É
ele que organiza protestos como os de junho, quando milhões de pessoas que
nunca se viram se transformaram num corpo só que se movimentou rumo a um
objetivo — disse Branco.
Fonte: Site A Notícia 14/01/2014
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