quarta-feira, 16 de abril de 2014

Eleição 2014: Pré-convenção do PMDB expõe diferenças entre Luiz Henrique e Mauro Mariani

Enquanto o senador defende manutenção da aliança com o governador Raimundo Colombo, deputado defende candidatura própria do partido.

Três de outubro de 2010. Mauro Mariani (PMDB) e Luiz Henrique (PMDB) comemoram os resultados da eleição. Naquela noite, ao chegar na casa do ex-governador, Mariani foi protagonista de um gesto inusitado. Embalados pelo clima de festa, ao se encontrarem, Luiz Henrique tirou a jaqueta que usou em muitas ocasiões durante a campanha e, em uma transferência simbólica de poder, agasalhou o deputado, que acabara de receber a maior votação da história para o cargo na Câmara Federal.
Quase quatro anos depois, o deputado está sentado em seu escritório, no oitavo andar de um edifício empresarial localizado no bairro Saguaçu, quando define o momento de sua relação com o senador joinvilense.
— Você quer falar sobre o clima belicoso, beligerante, em que estamos vivendo? — indaga o deputado.
A pré-convenção do PMDB de Santa Catarina marcada para o próximo dia 26 colocou Luiz Henrique e Mariani em trincheiras opostas – enquanto o primeiro defende a continuidade da aliança com o governador Raimundo Colombo, o deputado federal se transformou em um dos maiores defensores da necessidade de uma candidatura própria para a legenda. Em 30 anos de carreira, esta é a primeira vez que o senador se vê desafiado internamente no partido – logo por quem ele considerava ser seu “herdeiro político”.
Cada um lançou mão de diversas estratégias para defender suas bandeiras: são inúmeras viagens pelo Estado, reuniões com vereadores, plenárias regionais, encontros com lideranças, com presidentes de diretórios municipais e até mesmo uma carta, assinada pelo senador, listando “15 motivos para reeditar a atual aliança”.
Apoiado por nomes como o do ex-prefeito de Florianópolis Dário Berger, o ex-governador Paulo Afonso Vieira e o prefeito de Balneário Camboriú, Edson Piriquito, Mariani alega que o apoio à reeleição de Colombo pode enfraquecer o PMDB nas bases, deixando o partido sem musculatura no futuro.
– Eu sempre fui parceiro. Não preciso provar lealdade a ninguém, muito pelo contrário. Eu sempre fui leal. Talvez isto seja uma retribuição que eu estou recebendo – rebate o parlamentar.
Nos bastidores, aliados do senador tentam amenizar a ruptura e adotam um discurso uníssono: argumentam que o processo de discussão é natural dentro do PMDB e que qualquer que seja o resultado da pré-convenção, ele será respeitado pelos dois lados. Acima de tudo, dizem, não há nenhuma crise no relacionamento entre LHS e Mariani. Procurado pela reportagem, o senador preferiu não falar, sobre o assunto, sob o argumento de que qualquer afirmação poderia incendiar ainda mais o clima dentro do partido.
Há sete anos, em entrevista ao jornal “A Notícia”, Luiz Henrique tinha pensamento semelhante ao que Mariani defende nos dias de hoje.
— O Mauro Mariani é um extraordinário, um excelente candidato, mas quem vai decidir isso é a base em Joinville, como sempre foi. Assim eu fui candidato, assim nós apoiamos o Tebaldi (prefeito Marco Tebaldi). A decisão é de baixo para cima — afirmou, sobre a possibilidade de o parlamentar ser candidato à Prefeitura em 2008.
Disputas internas: Apesar de hoje ser enfático ao afirmar que não se considera apadrinhado pelo senador, a carreira política de Mariani tem estreita ligação com a atuação de Luiz Henrique nos últimos anos.
Em 2002, Mariani renunciou ao seu segundo mandato na Prefeitura de Rio Negrinho para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa e se transformou em um fiel defensor da eleição de LHS para o governo. Eleito, não chegou a esquentar a cadeira na casa: foi convidado e tornou-se secretário de Infraestrutura do Estado. 
O mesmo aconteceu em 2006, quando fora eleito deputado federal pela primeira vez, com mais de 170 mil votos. Apontado pelo próprio Luiz Henrique como seu sucessor, em 2007, transferiu seu domicílio eleitoral para Joinville para ser candidato à Prefeitura no ano seguinte. Recebeu 36.292 votos – 12,69% do total – e amargou um quarto lugar no pleito que considera “podre, que todo mundo sabia que era a vez do Carlito”. Ficou no cargo até 2010.
O distanciamento entre os dois remonta a esta época, quando Mariani deixou a secretaria para trabalhar pela candidatura de Dário Berger ao governo – que perdeu a convenção peemedebista para o vice-governador Eduardo Pinho Moreia. No ano passado, a disputa pela presidência estadual do partido os colocou novamente em lados opostos: Mariani disputou o comando da sigla contra Pinho Moreira. Luiz Henrique preferiu manter-se neutro para evitar desgastes.
O vice-governador venceu, mas o resultado da votação – 318 a 231 – foi um alerta às lideranças de que as bases não estavam completamente satisfeitas com os rumos que a legenda adotou.
Agora, o deputado afirma estar confiante em uma vitória, mas não fala
em números de votos.
— Esta coligação só existe na cúpula. Na base, o PSD é nosso adversários. Não sou obrigado a concordar com tudo o que ele (Luiz Henrique) acha, até porque ele está errado — argumenta Mariani.

Fonte: Site A Notícia 12/04/2014

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