sábado, 12 de julho de 2014

Eleição 2014: "Derrota potencializa insatisfação dos insatisfeitos, mas não muda voto de parcela significativa do eleitorado"

A organização da Copa do Mundo tem mais peso nas eleições de outubro do que a derrota histórica da Seleção de Luiz Felipe Scolari nas semifinais da competição.

A avaliação é do cientista político Yan Carreirão, coordenador da Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Após os 7 a 1 aplicados pela Alemanha na equipe brasileira, o professor conversou com o Diário Catarinense para analisar os impactos possíveis desse verdadeira Mineiraço nas disputas pela Presidência da República e pelo governo do Estado.
Diário Catarinense — Esse resultado da Seleção, como aconteceu, pode ter reflexo nas eleições de outubro?
Yan Carreirão — Se tiver, é pouco. Se o Brasil tivesse ganho, um clima de otimismo talvez tivesse impacto, uma sensação de bem-estar que poderia ser bom para os governantes, no caso a presidente Dilma Rousseff (PT). Mas com derrota não tem impacto muito grande. Acredito que o eleitor brasileiro não relaciona tão diretamente os resultados do futebol e da política. Isso pode ser potencializado por algum tipo de insatisfação que já tenha. Pessoas que já estavam insatisfeitas por a Copa estar sendo realizada no Brasil, gastos excessivos, suspeitas de corrupção, ou por acreditar que restaria um legado que não ficou. Isso poderia influenciar um pouco.
DC —  O sucesso da Copa como evento pode minimizar um efeito negativo causado pela Seleção?
Carreirão — Acredito que sim. Existem algumas críticas na mídia internacional, mas no conjunto não foi o que alguns imaginaram, de que haveria muita insatisfação, crítica, manifestações, que as coisas iam dar muito errado. A Copa tem tido um relativo sucesso do ponto de vista organizacional, os turistas estão gostando muito. Isso atenua um pouco o resultado da Seleção em campo.
DC —  Essa Copa do Mundo não acabou sendo politizada demais, tanto pelo governo quanto pela oposição?
Carreirão — Claro, o fato de ser disputada no Brasil permite isso muito mais do que as que foram disputadas fora. Porque ela foi politizada não pelo aspecto da Seleção, mas da própria Copa. A pertinência de trazer uma Copa para o Brasil, os gastos, o fato de muito dinheiro público, o fato de não ficar um legado, especialmente em mobilidade urbana, que se esperava. Por outro lado, também, deve ter movimentado a economia e pode gerar uma imagem positiva sobre o país que resulte na vinda de mais turistas. Não é um balanço fácil de fazer. Não é um balanço totalmente positivo e nem totalmente negativo.
DC —  A presidente Dilma voltou a ser xingada no Mineirão. Isso tem algum impacto?
Carreirão —  Divide o eleitorado. As pessoas xingaram a presidente naquela primeira ocasião e depois as pesquisas mostraram que o eleitorado não concorda com esse tipo de coisa. Claro que a insatisfação dos que já estavam insatisfeitos acaba sendo potencializada. Não vejo que possa haver mudança de voto de uma parcela significativa dos eleitores porque o Brasil foi mal na Copa. Teria um efeito maior se organização tivesse sido um fracasso, se a imagem do Brasil lá fora ficasse mal vista. Jogar mal ou jogar bem, as outras Copas mostram que o resultado esportivo e o resultado político não tem relação.
DC — E aqui na eleição catarinense, algum possível reflexo?
Carreirão —  Aí mesmo não tem impacto nenhum. É muito difícil relacionar resultados da Seleção Brasileira com política local, ainda mais que não teve nenhum evento aqui. Impacto zero.

Fonte: Site A Notícia 08/07/2014

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