segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Eleição 2014 SC: Entrevista Marlene Socca PCB

Aos 79 anos, a candidata a governadora de Santa Catarina pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), Marlene Soccas, acumula histórias que incluem tortura e dois anos de prisão por envolvimento com a luta armada e os ideais comunistas.
    Marlene afirma que, se eleita, pretende chamar os trabalhadores para opinarem sobre as decisões do governo.
Entre os dias 18 e 27 de agosto, o G1 publica os perfis dos candidatos ao Governo de Santa Catarina. A ordem de publicação foi definida por sorteio na RBS TV, com participação de representantes dos partidos. Além disso, todos os candidatos responderam as mesmas perguntas.
Natural de Laguna, no Sul catarinense, Marlene perdeu o pai aos 5 anos e foi morar com um casal de tios. Quando tinha 8, o pai adotivo também morreu e a então menina passou a viver apenas com a tia, a quem auxiliava a fazer doces para ajudar no orçamento da casa. Elas mudaram para Florianópolis, onde Marlene diz que alguns anos mais tarde conheceu os ideais comunistas, através de filmes sobre a União Soviética e de palestras de um professor de matemática que havia sido expulso do Exército.
Em 1955, se formou em odontologia, em Florianópolis. Depois, foi trabalhar em Joinville, no Norte do estado, onde se casou pela primeira vez. Após a separação foi morar com a mãe biológica em Criciúma, no Sul.
Após atuar quase uma década como dentista, ela conta ter iniciado especialização na Universidade de São Paulo (USP), na década de 1960. Havia acompanhado o Golpe de 1964, mas depois da morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, no Rio de Janeiro, durante uma passeata contra o regime militar, decidiu tomar uma decisão radical.
"Eu estava ali, cuidando da minha vida pessoal enquanto no Brasil estava acontecendo tudo aquilo. Então, ou continuava cuidando de mim mesma ou jogava isso para o alto e me integrava à luta dos brasileiros contra a ditadura", disse ela, que inicialmente participou dos confrontos armados e posteriormente decidiu inclusive abandonar a odontologia, quando estava com cerca de 30 anos de idade.
"Os diplomas ficaram na parede e fui trabalhar como operária em uma fábrica de peças para carros em São José dos Campos. Concordava com os motivos, mas não mais com a luta armada. Em vez de convencer as pessoas, eles começaram a viver fugindo. Eu queria estar na fábrica para conversar sobre o que eu acreditava", contou ela, que voltou para Santa Catarina algum tempo depois.
Já o engajamento com a política partidária, segundo ela, passou por duas siglas. "Em 1982, participei das discussões para fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), mas logo saí por entrar em conflito ideológico. Em 1985, quando o Partido Comunista conseguiu a legalização, passei a fazer parte do grupo”, comenta.
De volta a Santa Catarina, retomou a carreira como dentista, casou pela segunda vez aos 46 anos com um operário metalúrgico e adotou dois filhos: Ana, hoje com 45 anos e formada em psicologia, e Iuri, estudante de odontologia. Além disso, em 2010, formou-se no curso de história e depois concluiu pós-graduação na área. Prestes a completar 80 anos, em setembro, e com o terceiro livro lançado, ela continua atuando como dentista e fazendo parte de comissões que buscam o paradeiro de vítimas catarinenses da Ditadura.

Qual considera o maior problema do Estado?
Organizar os trabalhadores, dar consciência de que eles têm uma força imensa, porque são eles que produzem as riquezas. São que os capitalistas, os patrões, colocam essa riqueza no bolso. Em uma fábrica de sapatos, você tira o patrão e a fábrica continua, mas se colocar o patrão na fábrica e tirar os operários, a fábrica para. O apetite do capitalismo pelo lucro é o que devora tudo, é o que faz a destruição da dignidade, leva ao tráfico, à criminalidade e outros problemas.
Qual considera a maior potencialidade do Estado?
Santa Catarina pode ser o celeiro do Brasil, produz, exporta carne suína, aves, cereais, é um grande estado, o que nós temos um país com clima muito bom, favorável à agricultura.
Como pretende mudar o Estado nos próximos quatro anos?
Começando por organizar os trabalhadores. Serão chamados para participar do governo. Vou perguntar a todos: como vocês querem que eu faça? Vou também fazer uma auditoria para ver o dinheiro que é remetido para o exterior, pagar saber o que se deve e não pagar o que é injusto. Também quero fazer uma Reforma Agrária e rever as remessas de dinheiro para o governo federal. Quanto vamos enviar? Quanto vamos aplicar na saúde e outras áreas? É o trabalhador é que tem que decidir.

Fonte: Site Globo.com 26/08/2014

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