terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Atualidade: Senador Luiz Henrique da Silveira avalia Dilma, Colombo, e a si mesmo

Em uma conversa de pouco mais de uma hora com a reportagem de “AN” nesta sexta-feira, o senador Luiz Henrique da Silveira falou sobre o seu distanciamento da presidente Dilma Rousseff e do PT durante a eleição deste ano; 
comentou as decisões do governo de Raimundo Colombo em relação a Joinville e às secretarias de desenvolvimento regional; abordou a dificuldade de caixa do prefeito Udo Döhler; e avaliou a própria carreira política.
Ouviu o telefone tocar três vezes, mas não atendeu a nenhuma delas. Repassou o telefone para o jornalista José Gayoso, único assessor que o acompanhou na entrevista. Bateu na mesa com energia ao avaliar a postura de Colombo diante da dificuldade de instalar câmeras de segurança em Joinville. Gesticulou, riu e até listou pelo menos seis diferentes frustrações como político e como governante, três delas na área da cultura.
Aos 74 anos, o senador Luiz Henrique, que é reconhecidamente um dos políticos mais hábeis e de decisões firmes de Santa Catarina, se viu diante de uma situação inédita em 2014: em vez de pedir votos e se engajar na campanha, preferiu se recolher na última eleição – e justo a presidencial. 
—Eu não me engajei na candidatura do Aécio (Neves) nem da presidente Dilma (Rousseff). Fiquei numa posição de recolhimento—, disse.
Questionado para quem havia votado nos dois turnos da eleição, o senador respondeu rapidamente:
—O voto é secreto.  
Ainda impressionado pela despedida emocionada e reverenciada do senador gaúcho Pedro Simon, durante cinco horas no Senado, Luiz Henrique afirmou que vai tratar de fazer uma “netoterapia” quando abandonar a vida pública. Por enquanto, ela está prevista para o fim do mandato. Voltar a disputar uma eleição, só se a reforma política sair do papel.
Confira seis perguntas feitas para Luiz Henrique:

PARTE 1 - O CENÁRIO NACIONAL E A PRESIDENTE DILMA

Recolhimento

Eu procurei arquitetar uma aliança que era óbvia. A partir do momento em que o PMDB está coligado com o PT na base de apoio à presidente Dilma, era normal que o PT estivesse aqui na aliança para a reeleição do govenador Raimundo Colombo. E eu falei várias vezes: se isso acontecer, é o melhor dos mundos para o PT, que não elegeria um senador, mas nomearia um senador. O PT viraria protagonista das eleições em 2018 e faria uma forte base de apoio para a presidente, que tem dificuldades em Santa Catarina, como Lula teve. Lula só ganhou aqui quando esteve aliado conosco, em 2002. Quando não esteve, perdeu. Agora, o PT decidiu tomar outro rumo, e a gente tem de respeitar, com candidatura própria. Elegeu como plataforma de ação o fim da questão que é o avanço que determinou o boom de Santa Catarina, que é a descentralização. Ou seja, o PT foi malsucedido na campanha por não apoiar a descentralização e criou um fosso com o PMDB. Eu não me engajei na candidatura do Aécio nem da presidente Dilma. Fiquei numa posição de recolhimento. Foi a primeira campanha política de toda a minha carreira, que começou em 1970, que eu me recolhi. O PMDB tinha decidido apoiá-la. E aqui, a maneira como o PT se posicionou, me impossibilitava o engajamento. 
Voto secreto
O voto é secreto. Não fui cobrado porque havia outro fato. O vice-presidente Michel Temmer, que é um homem muito hábil, percebeu as dificuldades que a candidatura de Dilma tinha em vários Estados, especialmente no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste. Então, o PMDB adotou a posição de liberar os diretórios para seguirem seu caminho de acordo com suas realidades. Não havia uma decisão partidária que obrigasse a apoiar. Era uma posição de liberdade na escolha dos candidatos. 
Área econômica
Os Estados que representam a base produtiva do País, os grandes complexos industriais e econômicos, manifestaram pela mudança da política econômica. E o primeiro sinal que a presidente Dilma deu foi no sentido de atender a esses desejos. A equipe econômica atende a esses desejos. As nomeações na Fazenda, no Desenvolvimento Econômico e no próprio Banco Central são demonstrações claras de que a presidente quer fazer um novo governo. 
Operação Lava-Jato
Essa é uma questão que não tem um caráter político. Os desdobramentos são todos na Justiça. É uma questão policial e judicial. Não há paralelo na história política do País. Primeiro, porque a ação policial está embasada em dados recolhidos dos próprios suspeitos, computadores e anotações. E, segundo, porque nunca vi nenhuma crise política que envolvesse empresários. E os maiores empresários do País. O setor de infraestrutura é tocado por esses empresários. Isso, talvez, tenha um efeito didático. O Brasil, em vez dessa conglomeração que houve, de oito, dez empresas, dê oportunidade a empresas pequenas, menores, e multiplique a contratação daqueles que trabalharam para o governo. Todo o conglomeramento, monopólio, é ruim. E o que parece demonstrar os fatos é que houve um conglomeramento de empresas. Houve um consórcio entre elas, uma combinação entre elas. Eu acho que nunca mais, no futuro do País, um fato como esse vai se repetir. 
Reforma política
O governo tem de tomar iniciativa da reforma política. É a coisa mais urgente a ser feita. Primeiro, deve proibir toda e qualquer doação de empresa para candidato. Eu prefiro o financiamento público combinado com doações privadas de pessoas físicas até o limite máximo de três salários mínimos. Acabar com esse compadrio entre empresas que trabalham para o governo e o apoio a candidaturas. A segunda questão é estabelecer eleições a cada seis anos, simultâneas, de presidente da República a vereador. Todos os mandatos deveriam ter seis anos para tirar o País dessa emergência. Hoje, o governador é eleito e, no dia seguinte, já está se tratando das eleições de 2016. A outra questão fundamental é estabelecer a campanha na televisão ao vivo. Acabar com os comerciais de tevê que transformam os candidatos num produto de consumo, construídos por profissionais de propaganda como se fosse um colírio, um detergente, um sabonete, um automóvel. Os candidatos deveriam ir à tevê e fazer o programa ao vivo. Ou, na pior das hipóteses, pré-gravar o programa sem nenhum recurso ou computação gráfica. No máximo, com o número da candidatura, a bandeira e o símbolo do partido. É preciso também acabar com os partidos de aluguel. Estabelecer nas próximas eleições a cláusula de barreira. Quem não fizer determinada porcentagem de votos, o partido deve desistir e os votos se tornariam nulos. E, claro, proibir a coligação nas eleições proporcionais. Para vereador, deputado estadual e deputado federal, o voto tem que ser partidário, em que a pessoa vota no partido. 
Partidos falidos
Há uma falência dos partidos. Quando há eleições para vereador, para deputados, os candidatos do próprio partido se digladiam. Há uma autofagia partidária. O voto partidário fortaleceria os partidos e a democracia. Essa reforma tem de ser feita. 
Oposição ou situação?
Eu tenho uma posição de objetivar o interesse nacional. Tudo o que for fundamental para o interesse nacional, eu estarei com o governo. 
Dificuldade do PT em Santa Catarina
O PMDB é inequivocamente a maior estrutura partidária em Santa Catarina. E no País, acho que não há uma estrutura como temos aqui. E isso se reflete na eleição. O senador Dário Berger, que saiu candidato na última hora, sem nenhuma preparação, se elegeu porque havia a estrutura. Os pequenos e médios municípios foram decisivos para ele ganhar. 
A presidência do Senado
Tenho sido estimulado por colegas de todos os partidos. Mas a decisão é do PMDB. Vamos ver o que o PMDB vai decidir na segunda quinzena de janeiro. Essas coisas de presidência do Legislativo afunilam e são decididas na última hora. Evidentemente, a política, não dá saltos. Santo Agostinho dizia: “A natureza não dá saltos”. Darwin dizia: “A natureza se adapta e evolui”. E eu digo: A política não dá saltos. Percorri um longo caminho. São mais de 40 anos anos seguidos de mandatos sucessivos. Assumi o meu primeiro mandato em 1973. Evidentemente, se eu disser que não estou preparado para isso, contrariaria até uma trajetória tão longa. O tempo tem de fazer a gente experiente. Quem não aprender com o tempo, não aprende na escola.

PARTE 2 - GOVERNO ESTADUAL

Espaço do PMDB 
A questão dos cargos no governo estadual foi delegada a uma comissão formada pelo representante da bancada federal (Ronaldo Benedet), da bancada estadual (Moacir Sopelsa), o presidente do partido (Valdir Cobalchini) e o vice-governador (Eduardo Moreira). A minha participação foi a de chamar os companheiros para sentarem juntos para que o partido tenha decisões unânimes. Porque a minha tarefa, na construção de 2018, quando entendo que o PMDB deve ter candidato forte a governador, passa pela unidade partidária a começar deste momento. 
Disputa pela pasta da Infraestrutura
Houve um entendimento de que aqueles (do PMDB) que defenderam a candidatura própria ao governo do Estado indicassem o secretário de Infraestrutura, cujo nome é o do Romualdo França. Eu creio que não vá haver nenhum problema em relação a isso. Não tenho outros nomes. Aquela relação que a Acij elaborou, nós avalizamos. Nas tratativas que essa comissão (do PMDB) está liderando, vai haver uma troca da Saúde com a Agricultura. É uma reivindicação muito forte do PMDB do Oeste. 
Corte de cargos e reengenharia das SDRs
Quando criei as regionais, o meu desenho era de que elas seriam agências de desenvolvimento regional. Posteriormente, evoluí para secretaria porque fui alertado de que poderia precisar de algum deputado federal ou estadual para ocupar a pasta. Por isso, demos o nome de secretaria, seguindo o mesmo princípio das secretarias regionais de Joinville. O importante é que há uma decisão do governador de fortalecer, potencializar e profissionalizar essas secretarias. O entendimento do governador é de que quanto mais descentralizar, melhor. Ele está convencido disso. Quando estávamos no penúltimo ano do governo, fizemos seminários de avaliação e três coisas ficaram evidentes: a absoluta aprovação das secretarias regionais pela população; a necessidade de elas terem orçamento próprio; e que os cargos fossem ocupados por pessoas que fizeram o curso de agente de desenvolvimento regional. Assim como um diretor de hospital deve ter gestão hospitalar, um agente da SDR tem de ter o curso. Salvo se houver uma pessoa que tenha absoluta experiência. O cargo de secretário adjunto pode ser extinto. Mas a redução dos cargos de confiança não tem impacto nas despesas. O custo de todos os cargos de confiança em SC, que não chega a 2 mil, não representa muito em relação à folha. Mas se o governo identificar funções que devem ser extintas, estou plenamente de acordo. A solução do problema está no incremento da arrecadação. Hoje, a folha do Estado atingiu o limite. 
Segurança pública em Joinville
O problema da segurança é complexo. Passa primeiro pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A sociedade quer mais soldados, mais delegados, mais policiais, mas isso tem um teto. Segundo, o policial tem uma aposentadoria especial.  Quando forma mil, se aposentam outros mil.  Tem um problema estrutural muito grande nesse processo. Isso não quer dizer que seja insolúvel. Como vamos substituir isso? Com tecnologia e com a participação das prefeituras com as guardas municipais. E aprovamos, esses dias em Brasília, uma emenda constitucional dando aos municípios o poder de polícia para que tenham guardas armadas. 
Batendo na mesa
Joinville tem o problema das câmeras. O governador disse que não pode colocar ainda (as câmeras) porque a empresa que perdeu a concorrência entrou na Justiça. Esse problema é absolutamente urgente. Se o governador cancela a licitação, que está sub judice, e contrata com dispensa de licitação, inequivocamente vai responder a um processo e se incomodar. E o governador Colombo optou por não dar os peitaços que eu dava, né? Se tem de resolver, vai resolver (neste momento, o senador bate com a mão sobre a mesa). Não fazer a dispensa da licitação é justificável diante da judicialização. Seria bom para Joinville que o delegado Dirceu Silveira Júnior ocupasse uma função no comando da Polícia. [horas depois, Artur Nitz foi confirmado como delegado-geral da Polícia Civil].  
As demandas de Joinville
Devíamos exigir uma estátua para o seu João Costa, que doou o terreno do cemitério, do campo de futebol, do posto de saúde, da igreja. Hoje, o camarada (morador) é dono do terreno e não doa nem três metros que vão valorizar. Por outro lado, há um erro histórico dos financiamentos do BNDES e eu tenho falado isso até para o presidente. O BNDES financia a obra, mas não financia a desapropriação. E a desapropriação acaba custando muito mais. O Perini Business Park deu exemplo. A Dona Francisca está num impasse. A Santos Dumont também está num impasse. Espero que se possa resolver isso. Talvez até por isso que o deputado Mauro Mariani ache muito importante e tenha feito a indicação do Romualdo (França) para a Seinfra. 
Outras obras
Quando eu era governador, fiz uma coisa difícil de acontecer. Um projeto de R$ 40 milhões só para Joinville. O Estado assumiu um financiamento do BNDES só para Joinville. E a Assembleia aprovou. Vou continuar lutando para que o BNDES mude seus contratos, falar até com a presidente se for preciso. Não há como fazer obras de mobilidade urbana sem financiamento para as desapropriações. O viaduto da Tuiuti com a Santos Dumont vai sair porque o governador vai bancar a desapropriação de R$ 7 milhões. Senão, não sairia. Faço um apelo à comunidade para que seja parceira do processo. É preciso que haja um processo de doações, principalmente porque elas valorizam o resto do terreno. O cidadão perde 10%, mas valoriza muito os 90%. Essa lógica tinha que imperar aqui. 

Fonte: Site A Notícia 12/12/2014

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