sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Destaque Político SC: "É responder aquele bordão: você não me representa", diz Esperidião Amin sobre o retorno do projeto de reforma política

Como uma resposta às manifestações populares de junho, o Congresso engatou uma “agenda positiva”.
    Entre as propostas, a criação de um grupo especial com 18 deputados federais para discutir um molde para uma reforma política no Brasil. Isso foi lá em 2013. O projeto, que foi apresentado como uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), foi levado para apreciação dos parlamentares ainda em novembro daquele ano. E seguia na geladeira até ser aprovado, na semana passada, como uma das ações da nova presidência da Câmara dos Deputados.
Naquele grupo, inicial, estava um representante catarinense, o deputado Esperidião Amin (PP). Ele conta um pouco mais sobre a iniciativa desengavetada que, se aprovada, ainda deve ser aprovada pela população por meio de um referendo. Uma iniciativa difícil de passar até por todas as etapas do próprio Congresso Nacional, mas que também nunca começou a ser apreciada com tanto tempo para chegar a um resultado de verdade. 
Leia a entrevista abaixo:

DC — Depois de várias promessas para a Reforma Política, agora vai?
Esperidião Amin — Ela foi admitida (a PEC que trata do assunto). Desencalhada. Ela ficou 14 meses e 11 dias imobilizada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com meu parecer pela admissibilidade. Não tem nada que seja inconstitucional nela. Agora se vota contra ou a favor de cada uma das propostas, livremente. Hoje será criada a comissão de mérito. E isso é de 2013.
DC — O grupo foi criado na época das manifestações, certo?
Amin — Foi criado logo depois, em julho, e terminou seu trabalho em outubro. Em novembro, eu dei o parecer na CCJ. E ficou mais de um ano, vamos ser muito claros, com o PT não deixando votar. Foi isso que foi superado na semana passada. O PT quer voto em lista. E a proposta fechou em voto circunscricional, é um meio termo.
DC — E como funcionaria?
Amin — Santa Catarina, por exemplo, elege 16 deputados federais. Se fosse voto distrital, você teria que criar 16 distritos. E mais 40 distritos para deputado estadual e mais x distritos para vereador. Mas nós não temos essa experiência. Então o que ele cria? Cria a ciscunscrição. Divide o Estado em quatro regiões mais ou menos homogêneas, com mais ou menos o mesmo número de habitantes. Quem que é eleito? Os quatro mais votados de cada região. Não tem garupa, não tem carona.
DC — Basicamente o deputado só teria que fazer campanha nessa região?
Amin — Isso. É responder aquele bordão “você não me representa”. Alguns casos da época: Luciana Genro fez 120 mil votos para deputada e não era. Outro fez 12 mil e foi eleito.
DC — É um modelo novo ou já existe em outros países?
Amin — É uma mistura adaptada à situação do Brasil. E o que se pretende evitar? Fenômenos de São Paulo, por exemplo. O Tiririca faz um milhão de votos e elege mais três desconhecidos. O Celso Russomano faz um milhão e meio e ele leva (para a Câmara) mais cinco em quem eu não votei. Por que não o voto distrital? (O voto) distrital misto eu propus em 1989. Fiquei entusiasmado com a Alemanha. Mas lá é outra realidade. Os partidos tem história. Os nossos não tem história. Estão sendo criados partidos como se fossem padarias.
DC — Nesse assunto, foi criada uma proposta que é uma espécie de cláusula de barreira para os pequenos partidos?
Amin — Foi. Pessoal, de desempenho individual, e do resultado partidário. Por fim a essa indústria. Isso é uma indústria promovida pelo governo. Vamos ser bem claros, o governo contratou o Kassab para criar mais um partido. Para que? Para melhorar sua situação, sua base aliada. O presidente da Câmara já anunciou que vai entrar na Justiça contra (essas criações de legendas). O Judiciário cometeu uma irresponsabilidade quando disse que você sair do partido que o elegeu, para ir para um partido novo, é justa causa. Justa causa é quando o partido que te elegeu trai você ou coliga com um partido que você não quer. Que culpa tem o partido no caso de ser criado outro? Você foi eleito pelo partido, com exceção de 30 ou 40 casos específicos de deputados que fizeram mais votos que o cociente eleitoral. Meu caso, inclusive. Mas eu nunca mudei de partido.
DC — Mas a proposta diminui para seis meses o prazo necessário para filiação em outro partido para disputar uma eleição...
Amin —  Isso é outra ideia. Você cumpre aquele mandato. Você respeita. Mas, para você não ficar prisioneiro toda vida de um determinado partido, a comissão abriu essa possibilidade. Seis meses antes da eleição ele escolhe outro partido e o povo julga (com os votos na eleição). Ele praticamente cumpriu até o final o mandato. E nesse período antes da eleição já não se tem hoje deliberação nenhuma. É uma espécie de janela para o cara mudar de partido sem ter justa causa.
DC — E a proposta de reforma política do Planalto?
Amin — O governo não quer reforma política nenhuma. Ele quer criar outro partido para depois fazer fusão com o PSD. O projeto de reforma política deles, que a gente vê, é criar mais essa legenda para aumentar sua base, que está combalida.
DC — O fim da reeleição é proposta para ficar até o final ou é o famoso “bode na sala”?
Amin — Não, é proposta. Só que o que está ali pode-se tirar ou pode botar. Mas está lá. Proíbe a reeleição aos cargos executivos, com cinco anos de mandato. O que não está resolvida no projeto é a questão do Senado. Nós achamos que se nós baixarmos a eleição dos senadores para cinco anos ele vão ficar bravos. Então nós deixamos. Vai ser uma eleição solteira. Eles que regulem. Se nós aprovarmos o texto, eles vão ter a oportunidade de apreciar. E depois deve voltar para a Câmara para apreciarmos.
DC — Por que o Senado deve fazer alterações?
Amin — Porque o Senado está se mexendo para abrir a gaita. Esse movimento do Luiz Henrique é para preservar os oito anos de mandato, talvez aumentar para dez, e nós queremos o contrário. A Câmara é a representação do povo. Eu já fui senador. O Senado representa os Estados. Mas essa é uma polêmica de menor importância.
DC — A população está preparada para o fim do voto obrigatório, uma das propostas dessa reforma política?
Amin — Eu pessoalmente acho que não. Mas dentro de cinco ou dez anos terá que estar. Nós vamos caminhar para o facultativo. Eu acho que a maioria hoje já está. Eu não votei a favor do voto deixar de ser obrigatório, mas fui derrotado. Só que hoje já tem 20%, 30% de abstenção, não deve aumentar tanto. Quem não quer votar, não vota. Já vai lá e anula.
DC — Como fica o financiamento nessa proposta de vocês?
Amin — O texto prevê que, um ano antes da eleição, os parlamentares tem que aprovar uma lei definindo quais os limites de contribuição das pessoas jurídicas. Se não estabelecermos isso por lei, fica proibido. O Congresso tem que botar a cara, mas seria permitido. Depois disso a OAB entrou no Supremo dizendo que é inconstitucional a contribuição de empresas. Com o objetivo de aprovar o projeto na CCJ, eu tinha feito, na busca de um acordo, a sugestão pelo financiamento público de campanha. Isso não deveria ser decidido pelo Supremo, a responsabilidade é nossa, da Câmara. Mas, como não houve acordo, eu voltei para o texto original. A ideia será seguir permitido, mas com restrições.
DC — Última pergunta. Agora vai?
Amin — Ah, eu não tenho como responder. Há muitos interesses pessoais e partidários. Mas o importante é o seguinte: vai ter discussão. E nunca tivemos uma oportunidade de ter um tema desta magnitude no começo da sessão legislativa. Se não for é uma vergonha. O normal é chegarmos no último ano com deputados dizendo “agora vai terminar, não tem cabimento votar.” Agora não. Começou no começo. Eu não posso dizer que vai. Tem chance, mas é difícil.

Fonte: Site A Notícia.com 10/02/2015

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