segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Atualidade: O que aliados, adversários e analistas políticos esperam de Lula para 2014

A dois anos das eleições, as suspeitas que rondam o ex-presidente Lula são a esperança da oposição de se fortalecer para retomar o Palácio do Planalto.

Mas, mesmo que consigam enfraquecer o maior líder do PT, precisarão vencer uma batalha adicional pelo caminho: o prestígio da presidente Dilma Rousseff.
Apesar de filiada ao PT e herdeira do legado de Lula, Dilma é apontada por analistas políticos como uma das potenciais beneficiárias em caso de perda de poder do ex-presidente. Menos compromissada com o projeto partidário do que o antecessor, Dilma vem conseguindo se descolar dos atos de corrupção atribuídos ao partido e a legendas aliadas, com a imagem de uma gestora rígida, que não tolera "malfeitos".
Paralelamente, na avaliação do professor Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), as suspeitas abalam as pretensões de Lula de voltar ao Planalto em 2014.
— Até as pedras sabem que ele queria voltar, mas iria passar toda a campanha se defendendo, não teria condições — avalia o professor.
Mas ninguém imagina que Lula ficará fora da cena política: uma das hipóteses estudadas dentro do PT é o lançamento de sua candidatura a governador em São Paulo — num plano para quebrar o maior reduto tucano no país.
Cenário com Lula em baixa:
Na visão da oposição
A expectativa é de que, com a repercussão das denúncias que envolvem Lula, o descrédito ao PT chegue às classes mais populares, que têm sido sua base de sustentação. Nesse vácuo, haveria chance para o crescimento da candidatura do senador mineiro Aécio Neves à Presidência, que, num cenário ideal, gostaria de contar com o apoio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Na avaliação de tucanos como o presidente estadual do PSDB, deputado Nelson Marchezan Jr., um dos fatores que contribuem para o entendimento das novas denúncias pela população são os elementos mais concretos que contêm, como as viagens internacionais feitas por Lula com a ex-assessora Rosemary Nóvoa de Noronha.
— Já está havendo uma maior consciência do que foi a era Lula, esse tipo de atuação com negociatas, e esses novos indícios levam para a mistura da vida pessoal com a pública. As pessoas estão ficando mais bem informadas — acredita Marchezan.
Na visão petista
Apoiadores do ex-presidente Lula tentam classificar as denúncias como uma estratégia da oposição para enfraquecer o PT, mas internamente existe uma preocupação com a persistência das acusações.
O discurso dos governistas é de que Lula não tem o que explicar porque as declarações seriam infundadas e Marcos Valério não teria credibilidade, mas, repetidas à exaustão e somadas a outros episódios, como as suspeitas contra uma ex-assessora da Presidência em São Paulo, abalam ainda mais o discurso do PT de defesa da ética.
Com a crescente mácula, a legenda corre o risco de perder o apoio do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, expoente político de uma sigla em ascensão que, embora tenha tradição de se coligar com o PT, ensaia voos próprios e flerta com a oposição. Para mantê-lo em sua base, um grupo do PT já admite apoiar a candidatura de Campos à Presidência em 2018.
Cenário com Lula em alta:
Na visão petista
Apostando na força da popularidade de Lula, o PT acredita que será capaz de reverter a onda de denúncias por meio de um contato com o povo.
Com incursões do ex-presidente pelo interior do país, a expectativa é de que a acolhida das massas seja o antídoto contra as suspeitas que ecoam contra o líder petista.
Assim como o mensalão teve baixo impacto nas eleições, o partido confia que a onda de acusações será passageira e não será capaz de atingir o eleitor de classe popular.
— Em 2005, a oposição tentou o impeachment, mas não prosperou por causa da falta de apoio popular. Agora, é mais uma tentativa neoudenista (em relação à antiga UDN) de golpear, mas isso não vai colar — confia o secretário de comunicação do PT gaúcho, Cícero Balestro.
Com a popularidade em alta, Lula poderia se eleger governador de São Paulo em 2014 — apoiando a reeleição de Dilma Rousseff — ou até concorrer à Presidência.
Na visão da oposição
Diante da força da máquina partidária petista, a oposição teme assistir à redenção de Lula. Além disso, os adversários do PT enfrentam dificuldade em fazer frente ao projeto do governo. O PSDB pretende lançar Aécio Neves, mas um dos desafios é aumentar a seu lastro de apoio, já que o governo federal tem a maioria das legendas em sua base.
Caso o partido não consiga fazer uma composição com o governador Eduardo Campos (PSB-PE), as chances de chegar ao poder se tornam mais remotas. O PSDB também precisa superar os conflitos internos.
Ao mesmo tempo, também terá de barrar o crescimento de Dilma, que a essas alturas se tornou independente da figura de Lula.
— Seguramente, esse cenário favorecerá a presidente Dilma. Mas para isso deverá desenvolver uma estratégia delicada: aparecer como defensora da ética na política, intolerante com relação à corrupção. Não pode, portanto, estar excessivamente vinculada a Lula — avalia o cientista político Leoncio Martins Rodrigues Netto.

Fonte: Site Jornal A Notícia 15/12/2012

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